Pesquisa

terça-feira, 9 de março de 2010

Cultura Religiosa - Ulbra



MATERIAL COMPLEMENTAR AO LIVRO TEXTO
“O HOMEM E O SAGRADO”


PLANO DE ENSINO
UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL - ULBRA
DISCIPLINA: CULTURA RELIGIOSA ANO/SEMESTRE: 2009/01
PROFESSOR: THOMAS HEIMANN

OBJETIVOS DA DISCIPLINA:
Geral: Desenvolver os conhecimentos, os valores e as atitudes dos acadêmicos, através da análise crítica reflexiva da história e do pensamento religioso e cristão bem como de sua prática.
Específicos:
· Compreender o fenômeno religioso como uma dimensão antropológica, constituinte das civilizações;
· Identificar elementos da religiosidade nas diferentes representações da cultura humana;
· Analisar a influência e relação do fenômeno religioso com as outras áreas do conhecimento científico;
· Conhecer as principais formas religiosas e as principais religiões do mundo ocidental e oriental;
· Levar os alunos a refletir sobre os diversos fenômenos religiosos existentes no mundo e no Brasil;
· Reconhecer os principais fatos da história das religiões, bem como suas conseqüências;
· Perceber a influência das religiões na sociedade, tanto no passado quanto na atualidade;
· Compreender a importância do Cristianismo na cosmovisão Ocidental, bem como suas contribuições para a sociedade;
· Analisar a importância dos valores éticos, morais e espirituais na formação integral do ser humano;
· Refletir sobre questões de ética aplicada à vida do ser humano;
· Reconhecer os valores cristãos como uma das propostas de efetivação de uma sociedade mais ética e justa.

EMENTA: O fenômeno religioso, sua importância e implicações na formação do ser humano e da sociedade. As principais religiões universais: história e cultura. O cenário religioso brasileiro: principais correntes, movimentos e tendências. Religião e interdisciplinaridade: aspectos antropológicos, sociais, filosóficos, psicológicos. Reflexão crítica dos valores humanos, sociais, éticos e espirituais. Perspectiva global da visão cristã de ser humano e de mundo.
PROGRAMA DA DISCIPLINA

MÓDULO 1: O FENÔMENO RELIGIOSO
1.1 Religião e cultura: sociodiversidade, multiculturalismo, tolerância e inclusão
1.2 Religião e suas interfaces com as diferentes ciências
1.3 Religião como experiência pessoal e universal: espiritualidade e fé
1.4 Definição, características, críticas e finalidades da religião

MÓDULO 2: AS GRANDES RELIGIÕES NO MUNDO
2.1 A divisão das religiões: Hinduísmo, Judaísmo, Islamismo, Xintoísmo, Budismo, Confucionismo, Taoísmo
2.2 Os temas principais nas religiões: Deus, Homem, Sociedade e Mundo (relações de gênero - a mulher nas religiões)
2.3. O fundamentalismo religioso: terrorismo, violência, exclusão e minorias

MÓDULO 3: O CRISTIANISMO: ORIGEM E EXPANSÃO
3.1 Vida e obra de Jesus Cristo
3.2 A difusão do Cristianismo: da Igreja Primitiva ao Cisma de 1054
3.3 Principais doutrinas do Cristianismo
3.4 As Cruzadas

MÓDULO 4: REFORMA PROTESTANTE
4.1 A Reforma de 1517: causas e conseqüências
4.2 Igrejas reformadas e outras denominações
4.3. Igreja Luterana e Educação (IELB e ULBRA)
4.4 A Contra-Reforma Católica

MÓDULO 5: A REALIDADE RELIGIOSA NO BRASIL HOJE
5.1 Cultos afro-brasileiros e religiões espiritualistas
5.2 Pentecostalismo e neopentecostalismo
5.3 Temas gerais no campo da religiosidade: culpa e perdão, relação entre fé e saúde, seitas,...

MÓDULO 6: O ESTUDO DA ÉTICA
6.1. Axiologia: o mundo dos valores
6.2. Senso moral e consciência moral
6.3. Definição e caracterização da ética e da moral
6.4. Ética filosófica, social, religiosa e profissional (relações de trabalho)
6.5. Ética cristã
6.6. Ética aplicada: ecologia, aborto, sexualidade, suicídio, eutanásia, doação de órgãos, drogadicção, casamento...

AVALIAÇÃO: A avaliação será contínua e cumulativa (somativa), a partir dos seguintes instrumentos e critérios:
Instrumentos: duas provas (G 1 e G 2), trabalhos individuais, em dupla e em grupos, por escrito e oralmente; análise crítica de textos e filmes (os trabalhos são explicados e descritos na apostila).
Critérios: a qualidade técnica dos trabalhos, o comprometimento e pontualidade com os prazos e tarefas, a participação e interesse nas atividades propostas.

CRONOGRAMA DAS AULAS DE CULTURA RELIGIOSA (é flexível)
AULA
CONTEÚDO A SER DESENVOLVIDO
1
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA; CONTRATO PSICOPEDAGÓGICO; FENÔMENO RELIGIOSO: RELAÇÃO COM A CULTURA E SOCIEDADE
2
FENÔMENO RELIGIOSO: RELAÇÃO COM CULTURA E COM AS CIÊNCIAS: ANTROPOLOGIA, PSICOLOGIA, MEDICINA, DIREITO, ECONOMIA,...
3
BUSCA DO SAGRADO (C/AVALIAÇÃO); UNIVERSALIDADE RELIGIOSA, DEFINIÇÃO, ELEMENTOS, FINALIDADES, VISÕES CRÍTICAS DA RELIGIÃO,...
4
CULPA E PERDÃO: ASPECTOS PSICOLÓGICOS, EXISTENCIAIS, TEOLÓGICOS, SOCIAIS, ...(AVALIAÇÃO TEXTO CULPA)
5
PLANO DE SALVAÇÃO (Trechos do vídeo Paixão de Cristo), CRISTIANISMO E CISMA, Preparação micro-seminário
6
A RELIGIOSIDADE POPULAR E REALIDADE RELIGIOSA NO BRASIL 2000; RELAÇÃO FÉ E SAÚDE; Análise crítica sobre o fenômeno de possessões e ritos de exorcismo; vídeos sobre o tema
7
REFORMA PROTESTANTE (visão crítico-histórica) + VÍDEO: ANÁLISE CRÍTICA (“O NOME DA ROSA” ou “LUTERO”)
8
MICRO-SEMINÁRIO DAS GRANDES RELIGIÕES: HINDUÍSMO, BUDISMO, TAOÍSMO, JUDAÍSMO
9
ISLAMISMO (Término do micro-seminário); MOVIMENTOS RELIGIOSOS ATUAIS (Vídeos Inri Cristo, seitas, religiões suicidas, teologia da prosperidade...) ; PREPARAÇÃO DOS TRABALHOS DE G-2
10
AVALIAÇÃO DE GRAU 1
11
INTRODUÇÃO À ÉTICA: AXIOLOGIA
12
SENSO MORAL E CONSCIÊNCIA MORAL
13
ÉTICA: CONCEPÇÕES TEÓRICAS + Trabalhos G2
14
ÉTICA: TEÓRICA E APLICADA + Trabalhos G2
15
ÉTICA: TEÓRICA E APLICADA + Trabalhos G2
16
ÉTICA: TEÓRICA E APLICADA + Trabalhos G2
17
ÉTICA: TEÓRICA E APLICADA + Trabalhos G2
18
AVALIAÇÃO DE GRAU 2 (G-2)
19
REVISÃO DE CONTEÚDO E DEVOLUÇÃO DE PROVAS E TRABALHOS
20
SUBSTITUIÇÃO DE GRAU (G-3)
21
AULA SEMI-PRESENCIAL
22
AULA SEMI-PRESENCIAL

SUGESTÃO DE TEMAS PARA OS TRABALHOS EM GRUPOS (Relativo à nota parcial de G -2):

I. 1) Espiritismo; 2) Maçonaria; 3) Umbanda; 4) Demonologia; 5) Superstições 6) Parapsicologia; 7) Messianismo; 8) Santo Daime; 9) Magia negra; . II. 10) Clonagem; 11) Transgênicos; 12) Aborto; 13) Eutanásia; 14) Doação de órgãos; 15) Pena de morte; 16) Suicídio; 17) Sexualidade (Prostituição, assédio sexual, incesto, pedofilia, parafilias...); 18) Racismo; Outras opções: Cientologia, New Age, Mensagens subliminares, Wicca, Mitologias (grega, nórdica, romana,...), A Inquisição, Os 7 pecados capitais, Símbologia religiosa, ou qualquer outro tema de ética ou religião.
· Livros apócrifos; - EQM: Experiências de Quase Morte
· O Código da Vinci:(verdades e mentiras) - Sofrimento, resiliência e fé
· Espiritualidade e saúde; - Mídia e ética (TV, cinema, rádio, jornal,...)
· O Apocalipse (concepções religiosas) - Infidelidade (concepções éticas e culturais)
· As Cruzadas; - Ética e ecologia

Critérios observados para atribuição da nota na apresentação oral (em grupo e individual): a) Unidade do trabalho (não ser uma “colcha de retalhos”); b) Fidedignidade das informações; c) Ter uma base teórica (não ser superficial ou apenas senso comum); d) Segurança ao passar a informação (estar preparado e evitar leitura); e) Comprometimento com o tema e grupo; f) Utilização de recursos; g) Observar o tempo de apresentação (e divisão do tempo entre os membros do grupo); h) Pesquisa teórica e de campo; i) ...

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA COMO LIVRO TEXTO:
KUCHENBECKER, Walter.(0rg.) O Homem e o Sagrado. 8. ed. Canoas: Ed. da ULBRA, 2004.
OBSERVAÇÃO: CONSTA UMA BIBLIOGRAFIA DE APOIO AO FINAL DA APOSTILA

PROPOSTA DE AVALIAÇÃO E DE TRABALHOS DA DISCIPLINA

AVALIAÇÃO GRAU 1

Trabalho 1 (grupal e escrito) Data: ________ Valor: 1,0 ponto
1) Ler o texto “A busca do sagrado” e destacar duas idéias que julgue importante, relevante ou polêmica.
2) Fazer um breve comentário pessoal sobre as 2 idéias destacadas.

Trabalho 2 (grupal e escrito) Data:__________ Valor: 2,0 pontos
1) Leitura do texto “Tudo deve ser pago”.
2) Responder as questões de forma individual (não para entregar).
3) Discutir as questões nos grupos, reformular e complementar as respostas, entregando uma folha de respostas por grupo (esta parte será feita em sala de aula, com posterior discussão no grande grupo).
4) Questões: 1) Qual o sentido antropológico/existencial da afirmação do texto, de que “tudo deve ser pago”? Argumente sua resposta; 2) Que elementos são fonte geradora do sentimento de culpa nos indivíduos? Será que a culpa é apenas produto da religião? Argumente sua resposta.; 3) Qual o significado da expressão “bode expiatório”? Por que o ser humano faz tanto uso dos mesmos?; 4) Para o autor do texto há uma solução religiosa definitiva para se libertar da culpa. a) Qual é esta solução? b) Por que é tão difícil para o ser humano aceitar tal solução?; 5) Cite e comente criticamente (positiva ou negativamente) duas idéias do texto que o grupo julga polêmicas ou relevantes.Valor: 2,0
OUTRA OPÇÃO: AVALIAÇÃO INDIVIDUAL OBJETIVA SOBRE O TEXTO, APÓS DISCUSSÃO EM SALA DE AULA.

Trabalho 3 ( micro-seminário: grupal e apenas apresentação oral) Data: ____________
1) Cada grupo ficará responsável por uma das grandes religiões da humanidade, previamente estabelecida pelo professor. O grupo apresentará oralmente a religião, em torno de 15 minutos de apresentação (poderão ser utilizados recursos como retro, cartazes, fotos e objetos para ilustrar a religião).

ROTEIRO DE QUESTÕES PARA O MICRO-SEMINÁRIO

Nome do fundador e dados pessoais do mesmo.
Data ou período histórico da fundação.
Região e local da fundação.
Número atual de adeptos.
Locais, regiões e países onde mais se pratica a religião atualmente.
Nome ou idéia de deus(es), com suas características.
Idéia de vida após a morte.
Idéia de salvação (como se obtém ou se conquista).
Qual a visão ou concepção de Jesus Cristo para a religião.
Principais crenças sobre a origem do mundo.
Concepção de ser humano (como entende o ser humano).
Apresenta Idéias apocalípticas? (de fim do mundo?). Quais?
Principais ritos ou rituais.
Principais costumes (alimentares, comportamentais,...).
Principais festas ou períodos/dias sagrados.
Principais princípios ou doutrinas ético-morais.
Concepção ou visão que a mulher ocupa na religião.
Nome dos locais de culto ou adoração.
Nome dos livros sagrados que embasam a religião.
Grupos ou correntes divergentes na religião.
Fatos históricos ligados à religião.
Relação com a política.
Relação com a economia.
Relação com a sociedade.
Relação com outros aspectos: arte, esporte, educação, saúde...
Alguma curiosidade que não tenha sido comentada.

Observações: Evitar repetições de conteúdo na apresentação; A avaliação será do grupo, não individual; Não é necessário entregar nada por escrito. Será também feita uma avaliação individual de caráter objetivo (assinalar a resposta correta), que pressuporá o reconhecimento do conteúdo da religião apresentada oralmente. Valor: 2,0

Trabalho 4 Data: _________
1) Análise crítico-compreensiva do filme apresentado: “Lutero” ou “O nome da rosa”. Será feito um trabalho avaliativo sobre as perguntas orientadoras do filme, que estão descritas na apostila. Valor: 2,0

Trabalho 5: Avaliação compreensiva do conteúdo global de G 1 (em grupo e com consulta): Valor: 3,0

AVALIAÇAO GRAU- 2
Trabalho 6: Prova de G 2: 6,0 pontos
Trabalho 7: Projeto do trabalho: assunto, justificativa, estrutura, delineamento, recursos, fontes bibliográficas = 1,0 ponto (Servirá de base para a apresentação oral)
Trabalho 8: Trabalho de pesquisa e apresentação: 3,0 pontos

O trabalho em grupo de G -2 (tema escolhido pelo grupo) será apresentado em cerca de 20-25 minutos, com o uso de recursos áudio-visuais. Os grupos que optarem por temas de ética aplicada deverão pesquisar posicionamentos relativos ao temas que envolvem a ciência (medicina, psicologia,...), leis jurídicas, religiões e sociedade em geral (mídia,...). Os que optarem por temas que envolvam o fenômeno religioso terão um roteiro próprio (se o tema escolhido for uma religião poderá seguir o roteiro do micro-seminário = trabalho 3 – G1). A apresentação oral do grupo terá avaliação individualizada.

Projeto de apresentação do trabalho de G-2
Opção 1: Modelo de projeto científico
Importante constar no projeto: 1. Assunto do trabalho;2. Justificativa de escolha do assunto;3. Componentes do grupo (nome e sobrenome);4. Estrutura do trabalho (aspectos que serão abordados no desenvolvimento do tema, com o respectivo nome de quem ficará responsável por ele).;5. Delineamento do trabalho (citar os procedimentos e metodologia de pesquisa e apresentação; dizer como está sendo construído o trabalho; pesquisa de campo, bibliográfica, entrevistas,...);6. Recursos para apresentação oral (vídeo, som, retro, data-show, teatro, objetos,...);7. Fontes bibliográficas (citar livros, artigos, sites,...)

Opção 1: Questões norteadoras para análise do filme “O nome da rosa”
1. Sobre o que versava o “livro proibido”? Por que o Venerável tinha tanto medo de que ele caísse em mãos de outros monges?
2. A proibição de entrar na biblioteca tinha uma razão maior. Qual o significado desta proibição para a Igreja da época?
3. Qual o papel que o demônio ocupava ao longo do filme? Por que a Igreja reforçava tanto seu uso?
4. Qual o papel que a Inquisição ocupava na Idade Média?
5. Onde podemos perceber a presença do movimento da Renascença no filme?
6. Como estavam estabelecidas as relações de poder entre as classes sociais? (Igreja X camponeses; Igreja X nobres; Igreja X Imperador; Igreja X Igreja).
7. Qual foi a grande questão religiosa debatida entre a ordem dos Franciscanos e Delegados Papais? Descreva-a e interprete seu significado.
8. Qual era a questão defendida pelos Dolcilianos (Dolcinites)? Como os mesmos agiam?
9. Identificar no filme elementos de corrupção e/ou decadência moral dentro da Igreja.
10. Liste os elementos do filme que já apontam para a preparação e andamento do processo da Reforma Protestante de 1517.
11. Qual a visão que a igreja da época tinha referente à condição da mulher?
12. O filme trabalha com algumas representações simbólicas. Cite algumas.
13. Como Deus era visto pela Igreja da época?
14. Caracterize a ordem dos Beneditinos.
15. Situe historicamente o filme (entre dois fatos importantes da Igreja cristã).
16. Descreva o perfil intelectual de William/Guilherme de Baskerville.

Opção 2: Questões norteadoras do filme “Lutero”
1. Qual foi a motivação para Lutero abandonar os estudos de Direito e entrar num mosteiro, escolhendo a vocação religiosa?
2. Qual era a visão inicial de Lutero a respeito da figura de Deus? Como ele via a relação de Deus com o ser humano?
3. Qual foi a mudança que ocorreu em Lutero, depois de algum tempo, na relação com este Deus?
4. Qual foi a principal questão religiosa que gerou em Lutero a reação contra a Igreja e que provocou o debate entre Lutero e a cúria papal?
5. Qual foi o papel da questão política no andamento do processo da Reforma?
6. Como você percebeu a relação de Lutero na questão da revolta dos camponeses?
7. O que representou para a Reforma a tradução da Bíblia para a língua alemã. Qual o efeito disto para o poder da Igreja Católica?
8. Na discussão entre Lutero e o representante papa, o que foi exigido para que Lutero não recebesse a bula de excomunhão da Igreja?
9. Lutero provocou algumas mudanças na vida religiosa de monges e padres que aderiram à Reforma. Cite.
10. Qual a importância da invenção da tipografia de Gutemberg para o processo da Reforma?
11. Identifique questões de cunho social, político, econômico que se fazem presentes no filme.
12. Qual o papel que as relíquias sagradas tinham para os fiéis cristãos da época?



CONTEÚDO DA DISCIPLINA
GRAU 1

AULA 01

I. RELAÇÃO DO FENÔMENO RELIGIOSO COM A CULTURA, SOCIEDADE E O COTIDIANO

Se fizermos uma análise do mundo globalizado em que vivemos, não será difícil perceber que um dos produtos mais presentes na cultura humana é o da religiosidade. O fenômeno religioso, com tudo o que o envolve, no seu sentido mais amplo (animismo, misticismo, esoterismo, espiritualismo, religiões, magismo, superstições,...) está impregnado nas mais diferentes expressões culturais da humanidade. Mesmo que sejamos completos ateus, que rejeitemos qualquer coisa que esteja ligado ao mundo religioso, não há como escapar de sua influência no cotidiano de nossas vidas. Alguns exemplos podem demonstrar isto, como veremos abaixo:


MÚSICA
Legião Urbana, Roberto Carlos, Sertanejos, Gospel, Caetano, Gil, Gal, Heavy Metal, Black Metal, ACDC, Ozzy Osborne, Kiss, Padre Marcelo, Enya, Raimundos, ...
CINEMA
Ghost, Mudança de Hábito, Advogado do diabo, Fim dos dias, Último Portal, Indiana Jones, Joana D’Árc, O Corpo, ...
TELEVISÃO
Novelas (Caminho das Índias, Paraíso, A Viagem, Anjo Mau, Mandala, Torre de Babel, Pecado Capital, O Profeta, Almas Gêmeas, ), Minisséries (Toque de um anjo, Hilda Furacão, Ghost Whisperer, Medium, Supernatural, Assombrações,.....), Desenhos (Caverna do dragão, Os Simpsons,...), LBV, Rede Record, Rede Vida, Fantástico, Teledomingo, Globo Repórter, Documento Especial,...
REVISTAS
Capas de: Veja, Globo Ciência, Galileu, Terra, National Geographic, Capricho, Seleções, Nova, Marie Claire, Época, Isto é, Bons Fuidos, Esotera, ...
LITERATURA
Esoterismo, Bíblia, Versos Satânicos, Paulo Coelho, Mitologias, Código da Vinci, Anjos e Demônios, O Monge e o Executivo, Violetas na Janela,...
POLÍTICA
Vaticano, Golfo Pérsico, Irã, Afeganistão, Papa x Comunismo, Bancadas Evangélicas, Partidos, FHC e Lula, ...
TURISMO
Roma, Jerusalém, Egito, Grécia, Rio de Janeiro, Salvador,...
ARTES
Pinturas (Michelangelo, da Vinci, Rafael, ...) , Aleijadinho,
ARQUITETURA e
DECORAÇÃO
Feng Shui, Restaurantes temáticos, Templos, Mesquitas, Pirâmides, ...
ECONOMIA
Festas comerciais (Natal, Páscoa, Navegantes, São João, Sírio de Nazaré,...), Notas de real e dólar, Shopping em Aparecida, Lojas (venda de material esotérico e religioso: livros, CD’s, velas, santinhos, cristais,...), Contratos Comerciais (frangos, nike,...)
ESPORTE
Atletas de Cristo, Surfe, Tyson e Ali, NBA, Trabalhos e superstições dos atletas, Times de futebol, ...
ALIMENTAÇÃO
Alimentos proibidos ou impuros, peixe, álcool, dieta kosher...
EDUCAÇÃO
Ulbra, Puc, IPA, Ritter, Unisinos, La Salle, UMESP, Mackenzie, Escolas confessionais (privadas):
CALENDÁRIO
AD (Anno Domini), 200_d.C., Feriados, Carnaval, Sexta-feira 13, Judeus, muçulmanos, chineses,...têm outro calendário; O Budismo comemorou em 2003 o seu ano de 2130 (lunar);
PUBLICIDADE
Propagandas: Zaffari, Red Bull, Cervejas, Honda, Ford (São Nunca), Brastemp, Combustível adulterado,...
TEATRO
Mitologia, Auto da compadecida, Auto das Barcas,
COMPORTAMENTO
Moral sexual, danças, pinturas, fumo,
NOMES PRÓPRIOS
Angelo, João, José, Maria, Rita de Cássia, Moisés,...
NOMES DE CIDADES/ESTADOS
Santa Catarina, São Paulo, Espírito Santo, Aparecida do Norte, Santa Maria, São Leopoldo, Bom Jesus,
SUPERSTIÇÕES
Trevo de 4 folhas, arruda, pé-de-coelho, ferradura, 13,...
MODA
Vestuário, jóias e adereços, gestos,...
EXPRESSÕES VERBAIS
Deus me livre, Virgem Maria, Meu deus do céu, Cruz Credo, Graças a Deus...
RELACIONAMENTOS
Namoro, casamento, divórcio, amizades,...



Exemplo da força da religião na mídia televisiva e cinematográfica

Novelas da Rede Globo: 2001-02
Roque Santeiro (14h)
Estrela Guia – A Padroeira (18h)
Um Anjo que caiu do Céu (19h)
Porto dos Milagres – O Clone (20h)
O Quinto dos Infernos (22h)
Últimas Novelas: tema do espiritismo\reencarnação\freiras (Almas Gêmeas,...)
2007/02: 7 Pecados, Eterna Magia, Paraíso Tropical,

CINEMA
Comédia: Mudança de Hábito I e II, Todo-Poderoso I e II, Tenha Fé, Fé demais não cheira bem, Os deuses devem estar loucos, A Vida de Brian, Endiabrado, O céu pode esperar,...
Romântico: Ghost, Amor além da vida, Cidade dos Anjos, Chocolate, ...
Policial/Suspense: Sexto Sentido, Os Outros, O Mistério da Libélula, Stigmata, O Advogado do Diabo, Fim dos Dias, Seven, O Último Portal, Armagedom, Juízo Final, O Corpo, O Código Da Vinci, Devorador de Pecados, Reencarnação, Rios Vermelhos, Filha da Luz, Constantine, A Seita,...
Terror: Hellraiser, A volta dos mortos-vivos, O Exorcista, O Exorcismo de Emily Rose, Drácula, O Chamado, Navio Fantasma, Os Espíritos, ...
Aventura: Indiana Jones (1,2,3); Harry Potter, Senhor dos Anéis, As Crônicas de Nárnia, A Múmia, Escorpião Rei, Apocalypto,...
Épicos: Joana D’Arc, Elizabeth, Ben-Hur, Em Nome de Deus, Alexandre, Tróia, Cruzadas, As Bruxas de Salem, O Nome da Rosa, O Pequeno Buda, A Paixão de Cristo, Lutero,...
Polêmicos: Dogma, Je vous salu Marie, A Última Tentação de Cristo, O Padre, ...
Brasileiros: Cidade de Deus, Deus é Brasileiro, Jacobina, Auto da Compadecida,...

AULA 02

II. RELAÇÃO DO FENÔMENO RELIGIOSO COM OUTRAS CIÊNCIAS E CAMPOS DO CONHECIMENTO HUMANO

O fenômeno religioso exerceu e ainda exerce influência em muitas áreas do conhecimento humano. Independente desta influência ser positiva ou negativa, o fato é que a religião é objeto de estudo em muitas ciências. Vamos apontar para algumas das relações:

Teologia
Objeto central de estudo é Deus, dogmas, religião.
Filosofia
Já esteve ligada à Teologia. Estuda a transcendência do ser, a alma, vida após a morte, questões éticas e morais.
Psicologia
Freud, Jung, Vitor Frankel; Estudos que comprovam a influência da fé/religião na psique e comportamento humano; fé e saúde mental; Terapias alternativas (regressão).
Sociologia
Estuda a influência da religião nas relações sociais e como fator estruturante de muitas sociedades.
Antropologia
Estudo e análise de mitos, tabus, xamanismo,...
História
É feita também de fatos religiosos: Jesus, Buda, Maomé, Cruzadas, Inquisição, Reforma, Muro de Berlim,...
Fenomenologia
A religião como fenômeno objetivável, específico de ser estudado.
Medicina
Curas espirituais (concorrência ?); Hospitais da Idade Média; Poder da oração; Equipe multidisciplinar.
Direito
Direito canônico; Leis religioso-civis (mundo muçulmano);
Astronomia
Copérnico, Galileu, Big-Bang, ...
Física
Física Quântica, Stephen Howking,...
Arqueologia
Estudo de civilizações antigas; túmulos, tumbas, sítios religiosos,...
Administração
Empresas religiosas, marketing religioso,...
Biologia
Clonagem, Origem humana (Teoria da evolução);
Geografia
Países, cidades e regiões divididas pela religião.
Informática
Sites e provedores religiosos, questões éticas;





CURIOSIDADES SOBRE RELIGIÃO

1. O tema da religiosidade ocupou e permanece ocupando espaço no interesse popular. Pesquisas que abordam a fé e as crenças religiosas das pessoas são realizadas com certa freqüência. Numa destas pesquisas, relatada na REVISTA VEJA(19 de dezembro de 2001), coordenado pela VOX POPULI, os resultados foram os que seguem abaixo.

Em que os brasileiros acreditam (em %)
Ø Deus: 99%
Ø Vida eterna no paraíso: 83%
Ø Punição e recompensa após a morte: 69%
Ø Inferno ou punição eterna: 55%
Ø Diabo: 51%
Crença na vida após a morte por faixa de escolaridade
Ø Curso superior: 70%
Ø Nível médio: 61%
Ø Entre 5ª e 8ª série: 58%
Ø Analfabeto ou até 4ª série: 58%

2. A RELAÇÃO ENTRE FÉ E SAÚDE

· Tese de psicólogo gaúcha, Luciana F. Marques, pela PUC – RS, comprova que a religiosidade e o bem-estar existencial são fatores importantes para os indivíduos terem uma melhor saúde física e mental. As pessoas que indicaram não ter religião, em geral, foram as que demonstraram menor bem-estar existencial. (Fonte: Zero Hora, Caderno Vida, 16/12/2000).

· Espiritualidade tem a ver com disposição física e mental, segundo a Universidade do Texas. As pessoas que praticam uma religião apresentam melhores condições de saúde. Os maiores ganhos são de fundo psicológico, visto que os religiosos têm auto-estima maior e um círculo de amizades com o qual têm afinidades, prevenindo doenças de fundo emocional. (Fonte: Revista Veja, 08/12/1999).

Para maior reflexão sobre a relação entre fé e saúde, ler o extrato de artigo científico abaixo, encontrado na íntegra no site: http://www.unifesp.br/dpsiq/polbr/ppm/especial07.htm
Psiquiatria na prática médica: A religiosidade e suas interfaces com a medicina, a psicologia e a educação
(Paulo LR Sousa, Ieda A Tillmann, Cristina L Horta e Flávio M de Oliveira - Universidade Católica de Pelotas, RS, Brasil)
“A partir de Einstein, reduziram-se, um a um, os impedimentos de cercania para ciência e religião, a ponto de João Paulo II afirmar que religião sem ciência não é boa religião, bem como ciência sem religião não é boa ciência. Uma posição convergente com a do sumo pontífice foi, recentemente, tomada pela Organização Mundial da Saúde3 (1998), ao ter acrescentado a dimensão de bem-estar espiritual ao seu conhecido conceito multidisciplinar de saúde, que, como se sabe, só entendia uma condição de saúde se existisse a presença de bem-estar nas dimensões físicas, psíquicas e sociais. A valorização acrescentada, considerando o lado espiritual/religioso, é, sem dúvida, o selo decisivo e universalizado do entrelaçamento de ciência e religião.
Medicina e religiosidade
A área da saúde é uma das que, mais precoce e profundamente, tem investigado o tema medicina versus religiosidade. O setor médico, em especial, dedica, há algumas décadas, sobretudo a dos anos 90, uma grande atenção ao tema. Quem não ficaria estarrecido até bem pouco, seja médico ou religioso, diante de afirmativas como:
1. estados de meditação profunda, de experiências místicas intensas ou de imersão religiosa associam-se às alterações eletroencefalográficas; 2. técnicas de imagens cerebrais, tipo Spect (single photon emission computed tomography) ou Pet (positron emission tomography), ou ressonância magnética mostram aumento de atividade em algumas áreas cerebrais e diminuição em outras áreas durante os estados mentais-corporais antes referidos; 3. experiências místicas e meditativas são processos, provavelmente, mensuráveis e quantificáveis; 4. o bem-estar espiritual é uma das dimensões de avaliação do estado de saúde, junto às dimensões corporais, psíquicas e sociais; 5. médicos defendem que a reza intercessória (por outrem) pode ser um fator coadjuvante no tratamento de pacientes cardíacos.
Qualquer dessas afirmativas soaria, há duas ou três décadas, como algo completamente estranho e ilegítimo, tanto ao pensamento religioso quanto ao científico. Ciência e religião eram campos historicamente opostos, pelo menos, na cultura do ocidente. O apego da cultura ocidental por um pensamento linear (causalista e simplificador) e seu encantamento pelos avanços tecnológicos e sua crença numa filosofia empirista – em síntese, a adição ocidental ao positivismo estrito – configuram um conjunto de condições que, provavelmente, proporcionaram o isolamento e estimularam os conflitos entre religiosidade e pensamento científico. Hoje, afirmar que a religiosidade de uma pessoa afeta seu corpo, sua mente, sua interação com os outros, além de seu espírito soa menos estranho, embora ainda seja, em muitos círculos, motivo para desconfiança e inquietação.
Ainda que revistas científicas de impacto elevado, como Lancet, New England Journal of Medicine, Archives of Internal Medicine, JAMA, ampliem gradativamente seus espaços a temas religiosos, atualmente é prematuro e “inapropriado” ligar atividades religiosas a resultados médicos devido à carência de evidências sólidas e aos substanciais assuntos éticos ainda não examinados”.8 Assim, ao considerarem a complexidade e o tempo médico que seriam requeridos para poder tratar desses assuntos em profundidade com os pacientes, vários autores8,9 mostram-se reticentes em prescrever, diretamente, um envolvimento médico amplo sobre temas religiosos durante as consultas. Mas, não apenas a área médica mostra-se investindo nesse assunto.” ( o artigo segue).
Outras frases importantes sobre a relação entre ciência e religião, fé e saúde são:
“Ciência sem Religião é paralítica. Religião sem ciência é cega”.(Albert Einstein).
“Ciência sem fé pode ser loucura. Fé sem Ciência é fanatismo”. (Thomas A. Edison)
Para o médico Alex Botsaris, a medicina, antes de ser ciência, é um produto da cultura humana, estando presente desde as civilizações mais rudimentares, no momento em que surgiu a necessidade de alguém assumir a tarefa de curar as pessoas, auxiliando-as a lidar com a dor, com a incapacidade física, bem como frente à angústia suscitadas pela doença e morte. Desta forma criaram-se os primeiros “sistemas médicos”, que nas culturas mais antigas estavam ligadas aos sacerdotes e líderes religiosos, como xamãs, pajés, druidas, feiticeiros e curandeiros, que exerciam ambas as funções, tanto as de religioso como as de médico ou curandeiro.[1]
Landmann aponta para algumas destas relações ao lembrar um dos mais antigos deuses egípcios, Imhotept, o deus médico, bem como na Grécia, Esculápio, o deus da medicina, um dos deuses gregos mais populares. No Antigo Testamento, obra sagrada tanto para judeus como para cristãos, Deus também assume o poder de curar, como diz o livro de Êxodo “Eu sou o Deus que te cura” (Êxodo 16.26). Portanto, para Landmann, todo o carisma, a divindade e a santidade dos médicos tem seu nascedouro numa concepção religiosa ou mágica, independente de sua origem judaica, cristã, muçulmana ou mesmo pagã.[2] Dentre as diversas origens, talvez a mais forte relação da medicina com a religião se dá com a cultura mitológica grega, de onde inclusive surgiu o símbolo que representa a Medicina até os dias de hoje: o bastão de Esculápio.[3]
3. RELAÇÃO ENTRE DIREITO E RELIGIÃO:
TEXTO JORNALÍSTICO PARA REFLEXÃO
Sociedade : Associação espírita quer espiritualizar o Judiciário
Publicado por Redação em 19/05/08 - (Fonte: Folha Online) –

Eles defendem um Judiciário mais sensível às questões humanitárias, dizem que a maior lei é a de Deus, vêem na condenação penal e na própria função uma missão de vida, defendem o uso de cartas psicografadas nos tribunais e estimulam, nas audiências, a fraternidade entre vítimas e criminosos.
Discutir temas polêmicos, como o aborto, a eutanásia, o casamento gay, a pena de morte e as pesquisas de células-tronco, condenados pelas religiões cristãs, são alguns dos objetivos da recém-criada AJE (Associação Jurídico-Espírita) de São Paulo, que teve anteontem a primeira reunião deliberativa, e já existe no RS e no ES. "O Estado é laico, mas as pessoas não. Não tem como dissociar e dizer: vou usar a minha fé só dentro do centro espírita", afirma o promotor Tiago Essado, um dos fundadores da AJE.
Embalada na esteira do crescimento da Abrame (Associação Brasileira de Magistrados Espíritas), que hoje reúne 700 juízes, desembargadores e ministros de tribunais superiores, e que aceita apenas togados como membros, a AJE surge com uma proposta de abranger todos os operadores do direito e já conta com 200 associados ou interessados, entre promotores, delegados de polícia e advogados, além de juízes.
Embora juristas não vejam ilegalidade no fato de juízes se reunirem em associações religiosas, a questão levanta discussões como:
1) o laicismo, princípio que prega o distanciamento do Estado da religião;
2) a contaminação de decisões por valores ou crenças de caráter religioso ou pessoal;
3) e o caráter científico do direito positivo, que deve se basear em verdades comprovadas, e não, como a religião, em verdades reveladas.
Além dos tribunais superiores (entre outros, o vice-presidente do Superior Tribunal de Justiça, Francisco Cesar Asfor Rocha, é um dos integrantes da diretoria da Abrame), a convicção espírita permeou também o Conselho Nacional de Justiça, o órgão de controle externo do Judiciário. "Não enxergaria nenhuma diferença entre uma declaração feita por mim ou por você e uma declaração mediúnica, que foi psicografada por alguém", diz Alexandre Azevedo, juiz-auxiliar da presidência do CNJ, designado pelo conselho para falar a respeito das associações.
A Folha levantou quatro decisões em que cartas psicografadas, supostamente atribuídas às vítimas do crime, foram usadas como provas para inocentar réus acusados de homicídio. Segundo Zalmino Zimmermann, juiz federal aposentado e presidente da Abrame, o propósito da associação "é questionar os poderes constituídos para que o direito e a Justiça sofram mais de perto a influência de espiritualizar". "O objetivo geral é a espiritualização e a humanização do direito e da Justiça", diz.
Para o juiz de direito Jaime Martins Filho, a escolha de sua profissão não foi uma casualidade e, por isso, a exerce como uma missão de vida. "Não acredito em acaso, mas numa ordem que rege o universo, acredito em leis universais." E ele explica "a finalidade religiosa da associação".
"Dentro da liberdade de religião, são os juízes aplicando princípios religiosos no seu dia-a-dia. Temos um foco que é a magistratura, procurar trabalhar esses valores espirituais que estão relacionados com a própria religião dentro da magistratura", diz Martins Filho.

(Acessado em 19/06/08 http://www.overbo.com.br/modules/news/article.php?storyid=6970)

AULA 03

Realizar o trabalho avaliativo 1, com relação ao texto A Busca do Sagrado.
Trabalho 1 (grupal e escrito) Data: ________ Valor: 1,0 ponto
a) Ler o texto “A busca do sagrado” e destacar duas idéias que julgue importante, relevante ou polêmica.
b) Fazer um breve comentário crítico-pessoal sobre as 2 idéias destacadas, justificando a escolha das mesmas e sua relevância.








TEXTO AVALIATIVO 1
A BUSCA DO SAGRADO
(Erinilda Gheller)

A vida humana se caracteriza por perguntas e respostas relacionadas ao conhecimento, ao prazer, ao sentido da vida. É neste intercâmbio de buscas e satisfações que o ser humano vai construindo sua história pessoal tecida em 3 dimensões: biológica, psico-afetiva e espiritual. Estes 3 grandes aspectos da vida humana demandam respostas segundo a natureza das indagações de todo e qualquer ser humano.
Quem já não se perguntou: para que nasci? Para que estou gastando a minha vida? Por que sinto necessidade de amar e ser amado? Por que as pessoas têm fé? Por que e para que existe Deus? O que vai acontecer comigo após a morte?
Estas e uma centena de outras perguntas estão em nossas cabeças e nos atormentam.
Parece que o homem se apresenta com uma tríplice “fome”: fome de tudo aquilo que se relaciona com a sua realidade bio-física e lhe dá prazer; fome de tudo aquilo que se relaciona com a afetividade, o amor, a valorização pessoal; fome de tudo aquilo que está relacionado com o sagrado, o sentimento religioso. Deus, os mistérios da vida e do além. Estas fomes ou sedes precisam ser satisfeitas para realizar o equilíbrio humano.
O sentimento religioso
A questão da busca do sagrado, ou da busca de Deus, é algo inerente e próprio da natureza humana. O sentimento religioso, a inquietude do coração humano é que gerou, através dos tempos, as diferentes religiões. A tendência para Deus é um fenômeno universal, misterioso e incontestável. Ele está ao nível da experiência pessoal. Érico Veríssimo escreveu: “Meu nicho interior está vazio à procura de uma imagem”. Santo Agostinho expressou a essência da atitude religiosa em seu grito espiritual: “Fizeste-nos para ti, Senhor, e o nosso coração permanece inquieto enquanto não repousar em ti”. A raiz da fé, da religiosidade está na abertura do homem para o infinito, o eterno, o permanente.
Cada pessoa procura alimentar-se segundo as suas necessidades e preferências, mas precisa se alimentar, pois alimento é vida. A manifestação do sentimento religioso é algo encontrado nos grupos humanos desde sua aparição no teatro da vida, no palco da história. Esta expressão foi cultivada entre os povos mais primitivos e em todas as populações de qualquer nível cultural. Félicien Challaye afirma: “O sentimento religioso é a mais complexa inclinação que se pode descobrir no fundo do coração humano: em torno desta tendência fundamental agrupam-se todas as espécies de aspirações, entusiasmos, curiosidades sobre a vida, o universo e o além”.
De volta ao sagrado
Depois de um certo tempo obscurecida ou abalada, hoje a questão religiosa volta a cenas públicas de maneira surpreendente, com novas formas e sem os limites de espaços, tempos e rituais. Reza-se em estádios diante de massas humanas: na decisão do campeonato brasileiro, em Porto Alegre, quando os jogadores do Grêmio entraram em campo abraçados e, no centro do gramado, se colocaram em atitude de oração, mais de 60 mil pessoas fizeram um profundo e respeitoso silêncio.
Esta volta ao sagrado, no dizer de Umberto Eco, não é moda. A busca sempre existiu, o que mudou são as formas de expressar esta busca. Nunca se viu, no passado, tantos programas, notícias, entrevistas, debates, filmes sobre o tema religioso. Estão surgindo a cada dia mais movimentos de cunho religiosos, construção de templos de oração, terreiros de Umbanda, salas de meditação oriental, capelas, oratórios domésticos, centros esotéricos, visando preencher o vazio interior que as pessoas sentem. O turismo religioso está em alta. Organizam-se viagens e excursões a cidades onde existem videntes, paranormais, sensitivos ou para “tomar um banho” de energia cósmica.
Mercado espiritual
Quando a procura, a busca é grande e intensa e urgente, surgem as ofertas. Nossa sociedade se vê invadida por magos, videntes, bruxos, sacerdotisas, tarólogos, astrólogos, pais-de-santo, gurus de toda sorte, oferecendo cada um a sua proposta espiritual muito light, que seduz e atrai. Entenda-se aqui todos os programas, cursos, técnicas, terapias oferecidas pelos meios de comunicação social. Parecem saciar a busca de Deus. Em meio a este turbilhão de ofertas, que mais se poderia chamar de mercado espiritual, que prometem responder as ansiedades mais profundas do coração humano permeiam ambigüidades e contradições.
Por isso, muito cuidado com o alimento que se vai dar ao espírito; que ele não seja falsificado pelo colorido e pelas facilidades atraentes dos pacotes oferecidos. Isto vale para a realização da felicidade humana nas 3 dimensões, em especial a espiritual, que responde ao sentido da vida.
(Extraído e adaptado da Revista Mundo Jovem)


UNIVERSALIDADE DA RELIGIÃO E DO FENÔMENO RELIGIOSO

Uma questão de fundo pode ser colocada no debate do fenômeno religioso. Afinal, a dimensão religiosa é um produto da cultura ou é algo inerente ao ser humano? Somos treinados para crer ou a fé brota do interior do coração humano?
Tudo indica que o ser humano, em todos os tempos, civilizações e culturas teve a necessidade de se relacionar com algo ou alguém superior a ele, de natureza sagrada, transcendental ou divina. Algumas afirmações apontam para isso.

Cícero (senador romano): “Não há povo tão primitivo, tão bárbaro, que não admita a existência de deuses, ainda que se engane sobre a sua natureza”.

Karl G. Jung (psicanalista): “Entre todos os meus pacientes de mais de 35 anos, não há nenhum cujo problema não fosse o da religação religiosa. A raiz da enfermidade de todos está em terem perdido o que a religião deu aos seus crentes, em todos os tempos; e ninguém está totalmente curado enquanto não tiver atingido, de novo, seu enfoque religioso”.

Max Scheler (filósofo): “Há uma lei essencial: todo o espírito finito crê em Deus ou em seu ídolo. A descrença em Deus, ou melhor, a alucinação persistente, que o leva a por um bem similar em lugar de Deus (como o Estado, a arte, a mulher, o dinheiro, a ciência,...) ou tratá-lo como se fosse um Deus, tem sempre uma causa essencial na vida do homem. Se descobre-se esta causa, despoja-se o homem do véu que oculta à alma a idéia de Deus. Se destrói-se o ídolo que ele colocou entre Deus e ele, o ato religioso, que havia sido desviado, volta por si a seu objetivo adequado, formando-se a idéia de Deus”.



CONCEITO DE RELIGIÃO

a) Raiz etimológica da palavra
- do latim religare = religar, unir novamente => Lembra qual história (ou segundo outras interpretações mito, alegoria, parábola, ...)???
- do latim reeligere = reeleger, fazer nova escolha

b) Aspecto objetivo: religião é um conjunto de crenças, leis e ritos em um ser superior, com o qual o ser humano estabelece algum tipo de relação.
c) Aspecto subjetivo: é o reconhecimento, por parte do ser humano, de que ele é dependente de um ser superior, ao qual se submete através de crenças, leis e ritos.
d) Bidirecionalidade: há um duplo sentido e direção para a dimensão religiosa. Ela acontece em dois sentidos: vertical e horizontal.
Ø Sentido vertical: também é bidirecional, isto é, o ser humano busca um ser superior (questionamento de baixo para cima: ser humano =>Deus), e Deus busca e se revela ao ser humano (Deus => ser humano). Há várias formas de ambos estabelecerem contato um com o outro, dependendo da crença e tradição religiosa.
Ø Sentido horizontal:a religião, enquanto estrutura, exige que a vivência e experiência religiosa se dê em sociedade ou agrupamentos de fé (ser humano ó ser humano).

ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DE UMA RELIGIÃO

Há diferença entre os conceitos de: ESPIRITUALIDADE – FÉ – RELIGIÃO ???? É necessário fazermos uma distinção entre os mesmos. Enquanto os dois primeiros estão num campo mais individual e subjetivo, o último assume um caráter mais complexo e multifacetado, porém podendo ser objetivado descritivamente. Portanto, existem alguns critérios que precisam ser preenchidos por um grupo para que o mesmo se constitua numa religião. São quatro os elementos básicos de uma religião.

Doutrina: é o código expresso de todos os valores próprios da religião, tais como: crenças, dogmas, ritos e leis. A doutrina é a base teórica que fundamenta cada religião. Ex.: justificação pela fé, céu e inferno, reencarnação ou ressurreição, Trindade, Juízo Final,...

Ritos: são as cerimônias, as manifestações públicas, pessoais ou coletivas dos que têm a mesma crença. É a estrutura visível da manifestação religiosa. Exemplos: missas, despachos, comunhão, batismos, procissões, passes, exorcismos, incorporações,...

Ética: está vinculada com a doutrina e expressa a moral, ou seja, tudo o que é aprovado ou desaprovado pela religião no que diz respeito à vida em sociedade. Exemplos: não beber/fumar/dançar, não usar maquiagem ou jóias, não cortar cabelo, não usar determinadas vestes, não comer certos alimentos, fidelidade conjugal, ...

Comunidade: expressa a vivência religiosa em sua dimensão coletiva ou comunitária. Religião é sempre uma experiência interpessoal. Não existe religião de um só ser humano.


AS FINALIDADES DA RELIGIÃO

A religião tem inúmeras funções, que podem ser tanto positivas quanto negativas, dependendo do uso ou abuso que dela fazem. As funções podem assumir um caráter individual, interpessoal e social. Algumas das funções ou finalidades são:

1. Proteger o homem contra o medo da Natureza, nela encontrando forças benéficas, contrapostas às maléficas e destruidoras.
2. Dar ao homem um acesso à verdade do mundo, encontrando explicações para a origem, a forma, a vida e a morte de todos os seres vivos.
3. Permitir a construção de uma identidade pessoal bem como de uma identidade coletiva, com sentimentos de pertença (identidade de grupo).
4. Preencher o vazio existencial de muitas pessoas.
5. Oferecer ao ser humano a esperança de vida após a morte, seja ela de forma qualquer.
6. Oferecer consolo aos aflitos, dando-lhes uma explicação para a dor, física ou psíquica. Permite aceitar melhor as situações de crise e ensina a superá-las.
7. Garantir o respeito às normas, às regras e aos valores da moralidade estabelecidos pela sociedade.
8. Questionar sistemas ou situações de domínio e autoridade, fomentando mudanças sociais e políticas.

POSICIONAMENTOS CRÍTICOS A RESPEITO DA RELIGIÃO

O fenômeno religioso produz discussões em praticamente todos os campos do conhecimento humano. Estas discussões podem vir tanto em defesa de uma espiritualidade e religiosidade, como dimensão positiva do ser humano, quanto como em forma de críticas negativas, algumas bastante duras. Cabe analisarmos algumas destas posições críticas.
Podemos identificar no Iluminismo o movimento principal de crítica negativa à religião. Ali começou a proposta do humanismo absoluto, isto é, o homem passa a ter o valor supremo em si mesmo. A antiga concepção teocêntrica, onde Deus ocupava papel central, é substituída e passa a se tornar antropocêntrica: onde o homem passa a ser norma para tudo. Como diz Simões Jorge, este antropocentrismo se celebrizou e se firmou a partir do século XIX através da radical negação de Deus propalada e defendida por L. Feuerbach, K. Marx, F. Nietzsche e S. Freud: não existe nenhum ser supremo, princípio e fim último do homem, porque é o homem o seu próprio criador, a sua norma última.[4]

1. Ludwig Feuerbach
Feuerbach foi um célebre estudioso que passou pelos campos da teologia e filosofia. Em 1841 lançou a obra intitulada A essência do cristianismo, na qual procurava mostrar e comprovar que a religião estava morta e que em lugar da “religião de Deus”, nascia a “religião do homem”. Para Feuerbach a religião é produto puramente humano,ou seja, o ser humano, não podendo satisfazer todas suas necessidades, ficando refém das mesmas, postula um ser ilusório, fruto de sua imaginação. A este ser, fruto de sua imaginação, o ser humano acopla os seus predicados, suas qualidades. Mediante este processo de transferência, ele faz desse ser imaginado um Ser superior e passa a adorá-lo.[5] Portanto, para Feuerbach o deus do homem é o próprio homem, pois é uma projeção de seus desejos e necessidades internos. Feuerbach diz que isto produz uma alienação, pois o ser humano acaba não mais se reconhecendo no produto de sua criação. Esta alienação só é superada quando o ser humano para de pensar num Deus transcendente e se volta para si mesmo, substituindo o amor de Deus pelo da humanidade.

2. Karl Marx (1818-1883)
Marx foi uma dos grandes críticos da religião, mais especificamente crítico do cristianismo histórico, representado pelas instituições cristãs. A primeira crítica de Marx à religião é ideológica, a partir de uma concepção de homem que tem sua plenitude independente dos deuses.
Marx apregoa também o ateísmo, dizendo que “o ateísmo é o humanismo reconciliado consigo mesmo mediante a superação da religião”.[6] Para Marx a religião era um dos maiores obstáculos à realização da nova sociedade, sendo então uma invenção da sociedade capitalista para realizar a exploração de classes, sendo instrumento de evasão para os oprimidos e de justificação para os opressores. Diz Marx:

“A religião é a superestrutura do poder econômico...A religião diz que é preciso obedecer ao Estado, mesmo que nos explorem. É preciso obediência e paciência; depois, no céu, Deus vai recompensar. Por isso a religião é o ópio do povo. O progresso do socialismo acabará com a religião”.


3. Friedrich Nietzsche (1844-1900)
Nietzsche é considerado um dos mais originais, radicais e contestadores dentre os filósofos. Sua crítica à religião é bastante forte, ficando conhecido pela célebre frase “Deus está morto”. Para este filósofo, Deus e a religião cerceiam a autonomia do homem e a liberdade da vida com todos seus mandamentos, suas ordens, suas normas e exigências. A religião deve desaparecer para que o homem possa lançar-se “à vontade de poder”, princípio e fim de toda a realidade. Em Assim falou Zaratustra Nietzsche diz: “O maior perigo do homem, Deus, agora está morto e seu lugar será ocupado pelo Super-homem: Homens superiores, Deus era o vosso maior perigo”.[7] Para Nietzsche a religião é uma engenhosa invenção dos homens, porém não dos fortes para manter sob seu jugo os fracos (como propunha Marx), mas dos fracos para pôr um freio na potência dos fortes.(Batista MONDIN. O homem, quem é ele?, p.223).

4. Sigmund Freud
Freud, o pai da psicanálise nutriu especial interesse pela religião sendo que algumas de suas obras versam sobre este tema como Atos obsessivos e práticas religiosas, Totem e tabu(1912), O mal-estar da civilização(1929), O futuro de uma ilusão (1928) e Moisés e o monoteísmo (1939). Para Freud o marco inicial da religião é o totem, cuja criação e interpretação estaria ligada à questões edípicas (assassinato do pai, chefe do clã) e de um subseqüente sentimento de culpa. Para Freud a religião provém de uma neurose universal de culpa. Curando-se dessa neurose de culpa, o homem libertar-se-á da necessidade religiosa. Oura crítica de Freud diz que a religião é pura ilusão, a realização dos desejos mais antigos, mais fortes e dominantes da humanidade. É a sublimação máxima de seus instintos.[8]


Crítica de outros autores:
Algumas outras críticas encontramos em Augusto Comte, pai do Positivismo, que afirma o seguinte: “A religião provém do medo, da ignorância ou também do entusiasmo pela natureza. Há três estágios na evolução humana: a) o mítico, em que os homens procuram explicar tudo com os deuses; b) o filosófico, em que os fenômenos são explicados por conceitos metafísicos; c) o positivo, em que os fenômenos são estudados cientificamente e explicados por meios naturais. Dessa forma, o primeiro estágio da humanidade foi o religioso, o segundo o filosófico e o terceiro da ciência positiva.” Portanto, para Comte a dimensão religiosa do homem representaria a fase mais primitiva na área do conhecimento humano, sendo a expressão máxima de sua ignorância.

Já Janet Lombroso, psicólogo, diz que a religião provém da fantasia viva e irrefletida dos primitivos ou do apetite ilusório da felicidade completa, ou da demasiada tensão de afetos, ou de uma perturbação nervosa, ou de um estado doentio da psique humana.


IDÉIAS “POSITIVAS” DE DEUS EM ALGUNS CIENTISTAS

A defesa da religião ou da idéia de Deus pode ser encontrada em um grande número de cientistas, filósofos, médicos, psicólogos e demais figuras exponenciais da humanidade. Algumas rápidas frases e idéias extraídas de reportagens da revista Veja e Galileu apontam para isso.

Ø Stephen Hawkink (Astrofísico inglês, pai da cosmologia moderna): admite a hipótese teológica da criação do universo; a idéia de entender Deus seria o alvo supremo da física; “Acho que só Ele (Deus) pode responder por que o universo existe”.
Ø Albert Einstein: “Ah, se eu pudesse saber se no instante da criação Deus teve escolha de fazer um universo diferente e, caso tenha tido opção, por que é que decidiu criar este universo singular que conhecemos, e não um outro qualquer”. – “Deus não joga dados com o universo”. Observação: Einstein não crê num deus pessoal, mas tem uma visão deísta.
Ø Ernst Mayr (biólogo da Universidade de Harvard): “seu cálculo sobre a possibilidade da natureza produzir seres inteligentes pelos processos evolutivos conhecidos é quase uma sugestão de que os seres humanos são mesmo produtos sobrenaturais”.
Ø Charles Darwin: segurou por duas décadas a publicação de sua teoria da evolução por respeito aos sentimentos religiosos de seus familiares e colaboradores. “Por maiores que tenham sido as crises por que passei, nunca desci até o ateísmo, nunca cheguei a negar a existência de Deus”.
Ø Luis Pasteur: “Um pouco de ciência nos afasta de Deus. Muito, nos aproxima”.
Ø Aristóteles: “Deus é essência pura, separada da realidade sensível. É o Primeiro Motor Imóvel, que move o mundo como causa final”.

CLASSIFICAÇÃO GERAL DAS RELIGIÕES

As religiões podem ser classificadas de inúmeras formas. Segue uma classificação simplificada, sendo que uma religião pode conter elementos de várias classificações.

Religiões Primitivas: primeira forma de expressão religiosa. O culto aos deuses é realizado de uma maneira acrítica e pré-reflexiva. A forma de adoração é de alto teor mágico e mistério. Ex.: animismo, magismo, umbanda,...

Religiões Sapienciais: fundamentam-se na sabedoria, na busca pelo conhecimento. Destacam-se pela meditação, pela busca da sabedoria, do sentido da vida e pela contemplação. Buscam um ideal ético e uma sabedoria prática para a vida. Ex.:Hinduísmo, Budismo, Confucionismo, Taoísmo,...

Religiões Proféticas e Reveladas: surgem a partir de uma profecia ou revelação. Partem do pressuposto de que o ser superior revela sua mensagem e si próprio ao povo, através de profetas e livros. Ex.: Cristianismo, Judaísmo e Islamismo.

Religiões Espiritualistas: admitem a influência de inúmeras forças espirituais que agem tanto sobre as pessoas como também sobre a natureza. Ex.: Espiritismo, Umbanda,...

Religiões Místicas ou Filosofias de Vida: afirmam não possuírem dogmas nem seguir rígida estrutura institucional. São filosofias de vida que enfatizam aspectos ético-morais e valorizam a fraternidade entre os homens. Não gostam de ser confundidos e nem classificados como religião. Ex.: Seicho-no-iê, Rosacruz, Maçonaria, Teosofia, Esoterismo,...

FORMAS RELIGIOSAS A PARTIR DO CONCEITO DE DEUS

Existem muitas formas religiosas que estão diluídas nas diversas religiões, isto é, há várias maneiras de crer na manifestação de Deus. Entenda-se que o conceito ou nome dado a deus é extremamente amplo e variável. Vai desde nomes conhecido como Jeová, Alá, Cristo, Buda, Brahma, Tupã, Rá, até formas mais neutras como Pai do céu, Guia, Espírito Luz, Força Superior, Energia Cósmica, Todo-poderoso, Criador, Força Inteligente,...Entre as principais formas religiosas citamos:

Teísmo (téos = Deus): Deus é o único ser supremo, infinito, espiritual e pessoal. É criador, Deus revelado que age com e nas criaturas. É um Deus de personalidade própria e características pessoais bem definidas (Cristianismo, Islamismo e Judaísmo).

Deísmo: crê num único ser supremo, espiritual, que criou o mundo com suas leis. Não intervém nas criaturas e nem se revela. Parte da ciência se diz deísta.

Monoteísmo: crença num único Deus (Cristianismo/Islamismo/udaísmo).

Politeísmo: crença em vários deuses simultaneamente. Ex.:Grécia antiga, Roma antiga, Antigo Egito, Hinduísmo, Indígenas,...

Henoteísmo: acredita e cultua um só deus, admitindo, porém, a existência de outros. Ex.: facções hinduístas, tribos americanas,...

Panteísmo: tudo é Deus. Universo, natureza e deus são a mesma coisa.

Dualismo: crê na coexistência de duas forças superiores antagônicas, uma do bem outra do mal.

Ateísmo: acredita que não há ser superior. Deus não existe.

Agnosticismo: professa ignorância a respeito de deus, sendo que a existência divina é um problema insolúvel. É o ceticismo religioso. Exige provas para crer.

AULA 04

IV. O PROBLEMA DO SENTIMENTO DE CULPA

Um dos problemas que mais afligem o ser humano ao longo dos tempos é o sentimento de culpa. A culpa é um dos aspectos fundantes ou estruturantes de muitas religiões, apesar de que a história humana demonstra que a culpa faz parte inclusive de um processo civilizatório.Como tal, vamos abordar na disciplina esta temática da culpa a partir de um texto do psiquiatra suíço Paul Tournier. O texto que segue é um extrato e síntese de dois capítulos de sua obra Culpa e graça: uma análise do sentimento de culpa e o ensino do evangelho. São Paulo: ABU, 1985.

TEXTO AVALIATIVO 2 (ver questões página 4)
“TUDO DEVE SER PAGO”
Por vinte séculos a igreja tem proclamado a salvação, a graça e o perdão de Deus à humanidade oprimida pela culpa. Como é, então, que até mesmo entre os crentes mais fervorosos há tão poucas vidas confiantes, libertas e com gozo?
Parece-me que isto surge, pelo menos em grande medida, de uma atitude psicológica que eu agora quero enfatizar, a saber, a idéia profundamente enraizada no coração de todos os homens, de que tudo deve ser pago.
Eis aqui o caso de um homem em aflição. Por um bom tempo temos sido capazes de permanecer no plano científico e desarmar os seus mórbidos sentimentos de culpa. Porém, ainda permanece um remorso genuíno vigoroso. Ele me olha de uma forma desesperadora, e então eu lhe falo da graça que apaga toda culpa. Porém ele exclama: "Isto seria muito fácil!".
Parecia-lhe impossível que Deus pudesse remover a sua culpa sem que ele tivesse.de pagar alguma coisa. Pois a noção de que tudo tem que ser pago está profundamente arraigada e atuante em nós, tão universal quanto inabalável por qualquer argumento lógico. Portanto, as pessoas que anseiam ardentemente pela graça são as que têm maior dificuldade em aceitá-la. Seria uma solução muito simples, e uma espécie de intuição se lhe opõe.
Eu não penso apenas em ateus, mas naquelas muitas pessoas que se sentam nos bancos das igrejas. Podemos ver católicos e evangélicos indo regularmente à Confissão, à Comunhão, à Santa Ceia, sem acreditarem realmente que a sua culpa seja apagada. A própria freqüência de seus atos de devoção e de suas peregrinações, um certo ardor e zelo meticulosos, longe de ser um sinal externo de sua fé talvez seja uma indicação de que, a despeito de tudo, esta dúvida permanece em seus corações.
Eles não abrem mão de suas faltas no passado e nem aceitam que estas já foram perdoadas. No entanto, os católicos já receberam a absolvição individual de um padre na confissão e os evangélicos no ato de confissão na liturgia do culto. De uma forma geral, pelo menos a nível teórico, eles crêem na doutrina do perdão dos pecados, sem se apoderar dela em relação às imperfeições que continuam a corroê-los por dentro; ou talvez eles não percebam que este perdão não se refere apenas a certos pecados que são mencionados mais particularmente na igreja, mas a soma total da culpa angustiante, vaga, difusa e latente da qual nós estamos falando.
Não falo apenas do nosso mundo cristão tradicional. Pensem nas multidões inumeráveis de Hindus que mergulham nas águas do Ganges a fim de serem lavados de suas culpas. Pensem nas ofertas votivas e no ouro que cobre as estátuas de Buda. Pensem nos muitos penitentes e peregrinos de todas religiões que impõem a si mesmos sacrifícios, práticas ascéticas ou duras jornadas. Eles têm necessidade de pagar, de expiar. Em uma esfera mais secular, menos consciente de seu significado religioso, pensem em todas as privações e em todos os atos de caridade que tantas pessoas se impõem, a fim de serem perdoadas pelos privilégios, mais ou menos injustos, de que gozam.
Além disso, muitos problemas psicológicos estão ligados a um sentimento de culpa semiconsciente, confuso, vago. Assim, por exemplo, muitos homens após terem enganado a esposa sofrem de impotência quando se casam com as amantes após o divórcio, ou até mesmo após a morte de suas primeiras esposas.
Muitas doenças nervosas e físicas, e mesmo acidentes e frustrações na vida profissional são revelados pela psicanálise como sendo tentativas de expiação da culpa que é totalmente inconsciente. E uma forma de punição que o sofredor administra a si mesmo, e continua repetindo indefinidamente como uma espécie de fatalidade inexorável.
É a observação objetiva dos homens que nos obriga a fazer uma nova avaliação de sua vida espiritual e moral, e também abrir os olhos às extensivas repercussões que isto tem em sua saúde. Eles tentam em vão, e inconscientemente, fazer a expiação, "pagar". Eles realmente pagam, quase literalmente, com a sua saúde. A tremenda agonia desta culpa inesgotável, da qual os neuróticos são os mártires, é uma espécie de sacrifício expiatório que eles estão rendendo.
A necessidade de pagar pela própria reabilitação é universal. Vemos isto no caso de transgressores processados pela justiça. Eles fazem o máximo para obter a indulgência das cortes. Porém, se eles não forem submetidos às penalidades que o seu crime demanda, sentem uma miséria interior. Após a punição, seus cidadãos companheiros também aceitam a sua reintegração mais prontamente. Eles pagaram o preço. Como uma punição, uma penalidade, um sacrifício ou uma doença podem apagar um crime? Isto é extremamente ilógico. Os cálculos da justiça são puramente convencionais. No entanto está escrito no coração humano: tudo precisa ser pago! Para apagar o passado, uma expiação deve ser feita. Este é o sentido de todos os ritos e sacrifícios de todas as religiões. Atos de culto são uma forma de pagamento. Este e o seu significado psicológico. Espera-se que eles garantam a libertação da culpa descartando o débito que deu origem a ela.
O Dr. Baruk enfatizou a profunda verdade e a universalidade deste alívio de tensão psicológica por meio do bode expiatório. Por exemplo, quando uma esposa sofre com as faltas do seu marido e ao mesmo tempo está ligada a ele, ela começa a desculpá-lo dizendo que não é falta dele o fato dele ter sido tão mal educado. Ao dizer isto, a mulher transfere a culpa a sua sogra a fim de exonerar o marido. Ela faz de sua sogra o bode expiatório.
A estratégia pode funcionar muito bem, e a esposa é capaz de viver em harmonia com o marido e pacientemente aguentar as faltas dele. Porém, o bode expiatório, a sogra, permanece no pano de fundo; de mil modos a esposa suspeita de seus atos obscuros e traiçoeiros e acaba ficando obsessiva em relação a ela. Ela inclusive deixa de estar consciente de sua própria culpa em relação à sogra, do mal que ela lhe faz com uma energia que é explicada pelo medo e pânico deste inimigo ameaçador contra quem ela continuamente cria novas barreiras.
Este mecanismo é extremamente poderoso e difundido. Toda classe na escola tem o seu bode expiatório; um aluno ou, freqüentemente, um mestre; em toda loja e escritório, em toda assembléia ou família há bodes expiatórios que dão origem a uma certa dose de harmonia pelo fato da culpa e da reconciliação serem lançadas sobre eles.
Todos os ritos e sacrifícios respondem à idéia de que é preciso pagar por tudo. Eles são uma expressão de leis psicológicas que estudos modernos, tais como os do Dr. Baruk ou Dr. C. G. Jung, nos ajudam a entender melhor. Porém, eles também são permeados pelo espírito de misticismo que pertence à mentalidade primitiva. Eles possuem eficácia genuína, mas apenas à medida que as pessoas ainda retêm uma idéia infantil de culpa. Desta forma elas podem ser libertas da culpa, porque crêem que esta foi paga pelo ritual devidamente realizado. No entanto, à medida que a consciência moral se torna mais sensível e o homem atinge um sentido de responsabilidade pessoal, a confiança na eficácia do rito é destruída. O ritual, mesmo que meticulosamente executado, não mais parece ser suficiente para trazer paz de consciência. Uma forma de expiação mais segura é necessária.
Foi Deus quem pagou!
Desde os primórdios tempos bíblicos impõe-se nas mentes de homens inspirados que Deus quer justiça, e não que os homens se entreguem a iniqüidade confiando que podem subornar as suas consciências através de certos rituais. Já na lei mosaica a idéia é de que uma oferta individual pela culpa não dispensa a necessidade de se fazer reparação pelo erro cometido (Lv 7:1-7). No caso de roubo, fraude ou perjúrio, a parte culpada deve restaurar a parte injuriada o valor do objeto mais um quinto, e ao mesmo tempo fazer uma oferta pela culpa a Deus. Porém, mesmo este dissuasor não protegeu os homens de suas inclinações naturais de fazer um uso imoral do rito, escondendo o remorso de seu mal agir sob a capa de uma boa consciência ao ter executado os sacrifícios.
Portanto, em sua sucessão, todos os profetas apresentam demandas contra as falsas seguranças de um ritual expiatório. Eles despertam novamente a culpa que estes ritos adormeceram. Pois em seu relacionamento pessoal com Deus eles experimentaram uma outra solução diametralmente oposta a esta, a saber, que é Deus mesmo que apaga a culpa humana, e que ele o faz justamente quando o homem a reconhece, ao invés de imaginar ter pago o preço dela através de algum ritual. Apenas então a culpa é realmente suprimida e o homem liberto do seu passado.

Por toda a Bíblia vemos, portanto, duas visões opostas, duas soluções opostas para o problema da culpa, duas formas divergentes de reconciliação entre Deus e os homens: uma solução falsa que, apesar disso, contém um elemento de verdade, por meio de sacrifícios expiatórios, e também por esforço moral, apesar de totalmente inadequada; e a solução verdadeira, a expiação através do próprio Deus. Nenhum preço pago a Deus pode ser suficientemente alto pelo que ele merece.
No salmo 51 a solução é expressa da forma mais comovente (SI 51:2, 3, 7): "Lava-me completamente da minha iniqüidade e purifica-me do meu pecado. Pois eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim. Purifica-me com hissopo, e ficarei limpo; lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve".
Mas o anúncio maravilhoso da graça de Deus, que erradica a culpa, vai de encontro a intuição que todo homem tem: que um preço deve ser pago. A resposta que vem é a mensagem suprema da Bíblia, sua suprema revelação; é Deus mesmo quem paga, Deus mesmo pagou o preço de uma vez por todas, o preço mais caro que ele poderia pagar: a sua própria morte, em Jesus Cristo, na cruz. A obliteração (destruição/eliminação) de nossa culpa é livre para nós porque Deus pagou o preço. Jesus Cristo veio "para salvar o que estava perdido" (Mt 18:11). Aquele que "sempre teve a mesma natureza de Deus... se tornou semelhante ao homem, e apareceu na semelhança humana. Ele se rebaixou, andando nos caminhos da obediência até a morte — e morte na cruz (Fp 2:6-8 BLH).
Foi proclamado novamente por todos os apóstolos: por João: "O sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado" (1 Jo 1:7); por Paulo: "no qual temos a redenção pelo seu sangue, a remissão dos pecados" (Ef 1:7); por Pedro: "Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos" (1 Pedro 3:18);
Salvação não é mais uma idéia remota de perfeição, para sempre inacessível; é uma pessoa: Jesus Cristo, que veio a nós, veio para ficar conosco, em nossas casas, em nossos corações. O remorso é silenciado pela sua absolvição. Ele substitui o remorso com uma simples pergunta, aquela que fez ao apóstolo Pedro: "Tu me amas?" (Jo 21:15). Precisamos responder esta questão, e achar em nossa ligação pessoal com Jesus Cristo, paz para as nossas almas.
Todos os homens podem se beneficiar desta expiação única; todos os homens, de fato, "todo o mundo" como João afirmou (1 Jo 2:2). Jesus Cristo morreu por todos sem qualquer distinção, para homens de todas as idades e regiões, para hindus, para budistas, para muçulmanos, para pagãos e para ateus; basta que nele creiam.
O grande privilégio, que temos como cristãos, é saber que somos perdoados e que o perdão nos alcança através de Jesus Cristo. A ordem a seus discípulos de "ir a todo mundo", foi simplesmente para proclamar a "Boa Nova" (Me 16:15, BV), para convencer todos os homens e para multiplicar os sinais visíveis da graça de Deus através de feitos poderosos e de curas.
Foi para pregar a metanóia, esta transformação radical, o despertar da consciência de culpa e a erradicação desta culpa: a humilhação do orgulhoso e a restauração dos angustiados. Não que a salvação tenha que ser conseguida. Ela já foi de uma vez assegurada a nós e a todos os que crêem. Tudo já foi consumado em Jesus Cristo.

[Paul Tournier é um psiquiatra suíço. Começou sua vida profissional como médico cm Genebra em 1928. Sua preocupação com a medicina integral o levou à prática da psicoterapia.]


CULPA E PERDÃO
A DIMENSÃO TERAPÊUTICA DO PERDÃO
Thomas Heimann (extrato do livro de Cultura Religiosa para EAD)

De nada adianta falar de culpas se não abrimos a possibilidade de refletir sobre o perdão. Numa dimensão humana, das relações interpessoais, poderíamos afirmar que o perdão é uma das mais importantes ferramentas terapêuticas existentes nesta vida. O perdão pode ser visto sob três aspectos: o perdão divino, o perdoar a si próprio e o perdoar aos outros. Poderíamos perguntar: O que é mais difícil, perdoar aos outros, pedir perdão aos outros ou ainda se apoderar do perdão divino? Obviamente que esta resposta está ligada a uma série de variáveis.
Para um indivíduo orgulhoso assumir o erro e pedir perdão é quase uma impossibilidade. Para um indivíduo com pouca confiança em Deus aceitar o perdão de Cristo também é difícil. Agora, perdoar realmente aos que nos fizeram algum mal parece ser a mais árdua das tarefas. Não é à toa que se diz que “errar é humano e perdoar é divino”.
Hoje já há estudos que comprovam que a prática do perdão tem um efeito benéfico sobre a saúde humana. O psicólogo americano Frederic Luskin, faz uma relação entre o bem-estar trazido pelo perdão e a saúde do ser humano. Luskin afirma que guardar ressentimentos, culpar os outros ou apegar-se às mágoas estimula o organismo a liberar na corrente sangüínea as mesmas substâncias químicas associadas ao stress, que prejudicam o corpo. Um outro estudo de Luskin indicou que as pessoas mais inclinadas ao perdão sofriam menos enfermidades e tinham menos doenças crônicas diagnosticadas.[9]
Portanto, perdoar e pedir perdão são ações promotoras da saúde, na dimensão emocional, física e espiritual. São ações que precisamos aprimorar em nossa vida. O primeiro passo para isso é aceitar que as nossas culpas, os nossos erros já estão perdoados por Deus.
Acabamos de ver que este perdão divino é concedido a nós gratuitamente, sem qualquer barganha com Deus. Ele nos oferece o perdão a todas as nossas culpas. Diante dessa verdade bíblica nos vem à mente um ditado popular: “Quando a esmola é muita, o santo desconfia”.
O ser humano parece ter uma grande dificuldade de se apoderar do perdão oferecido pelo evangelho bíblico. Mesmo participando de rituais como a Comunhão (Santa Ceia), a Confissão e Absolvição nas missas e cultos, o ser humano não consegue se libertar de suas culpas, presas a ele como sanguessugas a retirar a sua alegria, bem-estar, auto-estima e paz de espírito. Como diz Tournier:

Parecia-lhe impossível (ao ser humano) que Deus pudesse remover a sua culpa sem que ele tivesse.de pagar alguma coisa. Pois a noção de que tudo tem que ser pago está profundamente arraigada e atuante em nós, tão universal quanto inabalável por qualquer argumento lógico. Portanto, as pessoas que anseiam ardentemente pela graça são as que têm maior dificuldade em aceitá-la. Seria uma solução muito simples, e uma espécie de intuição se lhe opõe.[10]

Precisamos crer e confiar que Deus nos perdoa. O grande privilégio que temos como cristãos é saber que somos perdoados e que o perdão nos alcança através de Jesus Cristo. Foi para pregar a transformação radical, o despertar da consciência de culpa e a erradicação desta culpa: a humilhação do orgulhoso e a restauração dos angustiados que Cristo veio. Não que a salvação tenha que ser conseguida. Ela já foi de uma vez assegurada a nós e a todos os que crêem. Tudo já foi consumado em Jesus Cristo.[11]
Vale uma reflexão final para o tema em questão, a partir de uma concepção cristã: o processo que leva a uma verdadeira libertação da culpa, que parte da confiança no perdão divino oferecido a nós, implica em três momentos. Primeiro, o reconhecimento dos nossos erros, que leve a um verdadeiro e sincero arrependimento. Segundo, o firme desejo de corrigir a nossa vida, transformando-nos positivamente como pessoas e como cristãos. Como diz a Bíblia, os frutos e as obras do cristão acompanham a verdadeira fé, mas obras feitas como símbolo de gratidão, como conseqüência natural da morada de Cristo em nossos corações e mentes e não como forma de pagar alguma culpa ou ganhar mérito diante de Deus. Finalmente, libertar-se da culpa implica também numa disposição interna constante em perdoar aos outros, num compartilhamento mútuo e recíproco do perdão que nos é oferecido por Deus em Cristo Jesus.
Culpa e perdão! Uma questão existencial que permanecerá atuando, afligindo e ressoando nos corações humanos enquanto o indivíduo viver, mas cuja resolução está mais próxima do nosso alcance do que podemos imaginar: na pessoa que se tornou a encarnação viva do amor, paz, consolo e perdão, chamada Jesus Cristo. Crer e se apoderar deste perdão é a ferramenta terapêutica por excelência, fonte de vida e alegria, da qual todos, sem exceção, podem fazer uso.

CULPA
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme Gary Collins (In: Aconselhamento cristão. São Paulo: Vida Nova, 1995), há duas grandes categorias de culpa: objetiva e subjetiva. Poderíamos ir além desta classificação, dizendo que a culpa pode ser agrupada em objetiva/externa/consciente e subjetiva/interna/insconsciente.

a) Culpa objetiva/externa: ela existe em separado de nossos sentimentos. Ocorre quando uma lei, uma norma foi violada. O transgressor é culpado perante esta lei, mesmo que talvez não se sinta culpado.

Há pelo menos 4 tipos de culpa objetiva:

1) Culpa legal: existe quando há violação das leis civis e do código penal (de trânsito, propriedade, ...). Uma pessoa que ultrapassa o sinal vermelho ou comete roubo numa loja é culpada perante a lei, quer ela seja ou não apanhada, quer sinta ou não remorso.
2) Culpa social: existe quando quebramos uma norma não escrita (em código penal), mas que é socialmente esperada. Comportar-se com grosseria, fazer comentários maliciosos ou críticas destrutivas, ignorar sujeitos necessitados ou causas nobres normalmente gera críticas e condenação da sociedade, sem que o indivíduo precise ir preso. Há culpa social, mesmo que o indivíduo não se sinta culpado.
3) Culpa religiosa/teológica: existe quando há violação das leis de Deus, isto é, quando transgredimos os padrões e mandamentos divinos expressos para o nosso comportamento. As religiões chamam esta culpa de pecado.
4) Culpa pessoal: existe quando o indivíduo viola seus próprios padrões pessoais, isto é, vai contra preceitos que ele próprio estabeleceu para sua vida. Exemplo: não beber, não fumar, fazer dieta, deixar o domingo para os filhos,...

b) Culpa subjetiva/interna: é o sentimento pouco confortável de pesar, remorso, vergonha e auto-condenação que surge com freqüência quando fazemos e pensamos algo que sentimos estar errado, ou quando deixamos de fazer algo que deveria ter sido feito.

AULA 05

V. PLANO DE SALVAÇÃO BÍBLICO

Um dos temas mais polêmicos da religião diz respeito à salvação das almas. Como podemos obter a salvação? Há inúmeras propostas no mundo religioso. Por vivermos numa sociedade mais cristianizada, vamos dedicar um espaço para analisar qual a proposta que o livro base dos cristãos, a Bíblia, nos faz. Obviamente, o tema gerará controvérsias.

Talvez algum dia alguém já lhe tenha feito a seguinte pergunta: "Se você morresse hoje poderia afirmar com certeza de que estaria salvo, que iria para o céu?" A maior parte das pessoas que se deparam com esta pergunta, respondem que não têm certeza, que não têm condições de saber se estariam salvas ou não. Mas, será que isto é verdade? Não temos condições de saber se temos a salvação ou não?
A Palavra de Deus nos diz que é possível termos a certeza da salvação. Como? De que maneira? Para isso é preciso dar uma olhada no plano de salvação que a Bíblia apresenta.

A. A GRAÇA DE DEUS
1. A SALVAÇÃO É UM PRESENTE
Muitas pessoas acham que precisam se esforçar para obterem a salvação, que necessitam guardar certos mandamentos e obedecer determinadas regras. Mas, segundo a Bíblia, a salvação do ser humano é um presente totalmente grátis.
2. A SALVAÇÃO NÃO É GANHA POR MERECIMENTO OU COMPRADA POR OBRAS
A salvação não é uma conquista, nem uma recompensa. É de graça! De certa forma pensamos que não há nada nesta vida que seja de graça. Sempre procuramos pela etiqueta do preço. Mas, pela bondade de Deus, a coisa mais importante que o ser humano poderia ter - a salvação - é gratuita! Naturalmente, a idéia de que temos de pagar por tudo é algo que está enraizado em nós. Em Romanos 6.23 está escrito: "Porque o salário do pecado é a morte (morte fisica, espiritual e eterna). Mas o presente de Deus é a vida eterna para quem está unido com Cristo Jesus, nosso Senhor".
A graça de Deus é fato divinamente revelado. Movido por seu amor pelo ser humano, Deus resolveu salvá-lo pela morte de Cristo. Por isso, a graça de Deus é a causa motriz e a salvação por Cristo é a causa meritória de nossa salvação. O ser humano afastado de Deus é salvo pela graça de Deus em Cristo. Como diz a Bíblia em Efésios 2.8,9: "Pois é pela graça de Deus que vocês são salvos, por meio da fé. Isso não vem de vocês, mas é presente dado por Deus. A salvação não é o resultado dos esforços de vocês mesmos. E por isso ninguém deve se orgulhar".
A doutrina da salvação pela graça distingue a religião cristã das demais religiões do mundo, pois quase todas dizem que o ser humano deve alcançar sua salvação por seus próprios esforços e obras. Já a Bíblia ensina que a salvação do ser humano é alcançada exclusivamente pela graça de Deus.

B. O SER HUMANO
1. É PECADOR
Um aspecto muito importante para se entender a "salvação" é ver o que Deus diz na Bíblia sobre o ser humano. De acordo com a Palavra de Deus, temos feito um tremendo estrago em tudo que colocamos as mãos. Ao olhar para o mundo atual vemos guerras e combates, crimes, delinqüência, assassinatos, ódio, inveja, egoísmo,.... Para a Bíblia, tudo isso é resultado do pecado. (Ler Romanos 3.10-12 3 e 23)
2. O SER HUMANO NÃO PODE SALVAR-SE A SI MESMO
A Bíblia vai mais longe e nos ensina que além do pecado, temos outro problema:. Por sermos pecadores não podemos salvar-nos a nós mesmos. Em Tito 3.4,5 lemos: "Porém, quando Deus, o nosso Salvador, mostrou a sua bondade e o seu amor por todos, ele nos salvou, não porque fizemos alguma coisa boa, mas por causa da sua própria misericórdia". Muitas pessoas pensam que se salvarão porque guardam os Dez Mandamentos, amam o próximo e ajudam pessoas menos favorecidas. Isto é o mesmo que perguntar na escola qual é a nota que preciso para passar de ano.
Deus também nos revelou qual a nota mínima que precisamos para passar de ano na escola da vida. Em Mateus 5.48 lemos: "Sejam perfeitos assim como é perfeito o Pai de vocês, que está no céu". Temos de ser perfeitos! Esta é a nota mínima. Bom, diante disso, concluímos que ninguém terá a salvação, porque ninguém é perfeito. Mas, então, deve haver um outro caminho. Qual é ele? Para entendermos isso, temos de deixar de lado o que Deus tem dito sobre nós, para considerarmos o que ele diz de si mesmo.
C. DEUS
1. É MISERICORDIOSO, PORTANTO NÃO QUER NOS PUNIR
Um dos fatos mais maravilhosos e mais difíceis de se aprender acerca de Deus é que Ele nos ama apesar do que somos. Ele nos ama não por causa do que nós somos, mas por causa do que ele é. A Bíblia mesmo afirma que "Deus é amor" (1 João 4.8b). E esse amor de Deus se torna ainda mais incompreensível quando nós nos enxergamos exatamente como somos.
2. É JUSTO, PORTANTO DEVE PUNIR O ERRO
A mesma Bíblia que nos diz que Deus é amor também nos diz que esse mesmo Deus é justo e deve punir o nosso erro. Se Deus fosse somente justiça, todos estaríamos perdidos. No entanto, Ele é amor. Ainda que tenha que punir o nosso erro, Ele nos ama e não deseja nos punir. Se Ele fosse somente amor, então não haveria problema, todos estariam salvos. A questão é que qualquer relacionamento de amor que Deus tenha conosco deve estar em harmonia com sua justiça. Qual a saída para este dilema de Deus: Amor X Justiça? Este problema Ele resolveu em Jesus Cristo.
D. JESUS CRISTO
1. OS NOMES DO SALVADOR
"Jesus" é o nome pessoal pelo qual o Salvador era conhecido e chamado em seus dias. Este nome foi escolhido pelo próprio Deus: "Ela dará à Iuz um filho e Ihe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles" (Mateus 1.21). O sentido de Jesus é ajudador, Salvador. Já, "Cristo", que é a palavra grega para o hebraico "Messias", quer dizer o Ungido. Chamar a Jesus de "o Cristo" é reconhecê-lo e aceitá-lo como o Messias prometido do Antigo Testamento.
2. AS DUAS NATUREZAS DE CRISTO
Cristo é verdadeiro Deus -Em nossos dias a divindade de Cristo é negada por muitos. Para alguns, Cristo é um homem modelo, um grande mestre e reformador, mas não o próprio Deus. Mas se Cristo não é o verdadeiro Deus, não é "nem modelo de virtude, nem grande mestre, senão que, conforme os judeus disseram a seu respeito, um enganador (Mateus 27.63), e sua religião uma fraude. Não pode ser o Salvador da humanidade. A divindade de Cristo é doutrina fundamental, pois se a negarmos tornamos impossível a fé que salva..
Cristo é verdadeiro homem - O fato de que Jesus foi homem real está claramente estabelecido na Bíblia: Jesus têm ancestrais humanos (Rm 9.5), é chamado filho de Davi (Mt 21.9), nasceu de mãe humana, da qual recebeu uma natureza humana (Lc 1.35), tem corpo de carne, sangue e ossos (Lc 24.39; Hb 2.14), tem alma humana (Mt 26.38), a si mesmo se chama Filho do homem (Mt 9.6), agiu como homem, nasceu, cresceu em conhecimento (Lc 2.7,52), tinha fome (Mt 4.2), dormia (Me 4.38), sofreu e morreu (Mt 20.18,19 e Jo 19.30).
3. POR QUE O SALVADOR TEVE DE SER DEUS E HOMEM
Por que verdadeiro homem? - Sendo que Cristo devia salvar a humanidade teve que tomar o lugar do ser humano, tornar-se o substituto dele. Ver Hebreus 2.16-18. Para salvar os homens foi necessário que Cristo fizesse duas coisas, ambas as quais requeriam que ele fosse verdadeiro homem:
a) para satisfazer as exigências da santidade de Deus foi necessário que ele cumprisse a lei (Lv 19.2). O ser humano não fez isso, nem podia fazê-lo, por isso Cristo assume esse dever e encargo (Gl 4.4; Mt 3.15; Rm 10.4).
b) para satisfazer as exigências da justica divina foi necessário que se fizesse uma reparação completa pelos erros do ser humano sofrendo as penas a elas devidas (Rm 6.23; Hb 9.12,22). Por isso tinha que ser verdadeiro homem a fim de que fosse capaz de sofrer e morrer por nós.
Por que verdadeiro Deus? Apenas Deus podia dar inteira satisfação a Deus. Por isso qualquer reconciliação tentada por alguém que é menos do que Deus, necessariamente deve fracassar. Mas o que Cristo fez foi suficiente para salvar a toda humanidade (2 Coríntios 5.18,19).
E) A FÉ
Quem receberá o presente da salvação? A Bíblia diz que poucos andam pelo caminho da vida e muitos andam pelo caminho da destruição. Como então podemos receber este presente? Unicamente pela fé, a fé salvadora. A Biblia diz: Pois é pela graça de Deus que vocês são salvos por meio da fé." A fé é a chave que abre a porta do céu.
1. O QUE É FÉ SALVADORA?
Primeiro vamos dizer o que fé salvadora NÂO É: A) Não é apenas um assentimento intelectual da existência de um Deus ou a crença em um Jesus histórico.B) Não é apenas uma fé temporal, na qual o indivíduo faz uso de Deus apenas diante de problemas de doença ou financeiros, pedindo a Ele para solucionar os problemas. Deus-“aspirina”, Deus “cheque”,...
2. FÉ SALVADORA É CONFIAR SOMENTE EM JESUS PARA A SALVAÇÃO: Isto é, depender de Cristo e do que ele fez para a minha salvação. É deixar de confiar nas minhas boas obras, Jamais conseguiremos merecer a salvação. A Bíblia diz que Deus veio ao mundo e ,que na pessoa de seu Filho, pagou na cruz pela nossa salvação um preço infinito. Sendo tão bondoso, Deus nos oferece a salvação como um presente.Se tudo é de graça, por que, então, devo tentar viver uma vida de obediência a Deus? A razão para viver uma vida correta é a gratidão pelo presente da salvação que Cristo me deu.

V. AS ORIGENS DO CRISTIANISMO:
IGREJA CRISTÃ PRIMITIVA ATÉ O CISMA (Livro texto O Homem e o sagrado, p.103 ss.)

1. A Igreja Primitiva: Início: 33 d.C. com o Pentecostes
Final: 476 d. C. com a queda do Império Romano
A Igreja Cristã Primitiva é marcada por alguns fatos que merecem ser destacados para melhor compreendê-la.

A Grande Comissão: Jesus Cristo, antes de subir aos céus, dá um mandamento aos seus seguidores: “Ide fazei discípulos de todas as nações,...”(Mt 28.19). O Cristianismo nasce com a vocação para ser uma religião universal, que busca aceitar todos os povos.

Atividade Missionária: O Cristianismo expandiu-se da região da Judéia para outras regiões em função da vocação missionária dos apóstolos. Destaca-se dentre os apóstolos Paulo, que foi o responsável para levar o Cristianismo pela Europa e Ásia Menor. Paulo, inicialmente, foi um perseguidor de cristãos. Após ser convertido, passou a ser o maior missionário. Era homem erudito e intelectual. Tinha cidadania romana, o que lhe deu certas regalias na prisão de Roma. É autor de 13 dos 27 livros do Novo Testamento, o que demonstra sua importância para a Igreja Cristã. É o grande propagador da doutrina da salvação pela graça. (Epístola aos Gálatas e Romanos).

Perseguições: os primeiros anos do Cristianismo foram marcados por inúmeras perseguições aos cristãos. As perseguições criaram dois tipos de pessoas:
a) Mártires: cristãos que morreram pelo ideal de sua fé em Jesus.
b) Apóstatas: cristãos que, devido às perseguições, preferiram negar e abandonar a fé em Jesus e voltaram ao paganismo (prática de rituais aos deuses romanos).

Forças Opositoras ao Cristianismo: O Cristianismo enfrentou dois grandes adversários, que lutaram para sufocar o avanço da Igreja Cristã. São eles:
a) Judaísmo: consideravam os cristãos como uma seita herética, visto os judeus não aceitarem Jesus como o Messias prometido do Antigo Testamento.
b) Politeísmo greco-romano: o culto aos deuses do panteão greco-romano era fonte geradora de enorme lucro. O cristianismo, que aboliu o ritual dos sacrifícios de animais, acabou trazendo prejuízo para os que viviam destes ritos.

Causas do triunfo do Cristianismo: Causa surpresa o fato de uma pequeno grupo de seguidores de Jesus, ter feito desta religião, em menos de 300 anos, a despeito de todas as adversidades encontradas, a principal religião do Império Romano. Algumas causas contribuíram para isto:
a) Testemunho pessoal dos cristãos: os primeiro cristãos eram fortes propagadores da mensagem de Jesus; sendo modelos de vida, coerentes com a mensagem de amor, paz e solidariedade que pregavam. Corpo a corpo.
b) O sangue dos mártires: para alguns historiadores a forma como os cristãos enfrentavam a morte acabou sendo um elemento que arregimentou mais fiéis à causa cristã. O sangue dos mártires foi a semente da expansão cristã.
c) Defesa dos apologetas: a medida que o Cristianismo avançava alguns intelectuais, filósofos, eruditos e letrados começaram a ser convertidos para o mesmo, tornando-se defensores das doutrinas cristãs, inclusive através de documentos escritos. Os apologetas auxiliaram a que o Cristianismo atingisse a elite e nobreza da sociedade greco-romana.
d) Questões políticas: a partir de 311 d.C., com o Imperador Galério, foi baixado o Edito de Tolerância, onde o Estado ficava indulgente com os cristãos, deixando de persegui-los. Já em 313 d.C., com a eleição de Constantino, baixou-se o Edito de Milão, em que o Cristianismo foi elevado ao status de religião lícita, ao lado das outras religiões pagãs. Com o Imperador Teodósio, em 391 d.C., o Cristianismo ganha o último round, quando é proibida qualquer forma de culto pagão e o Cristianismo é adotado como a religião oficial de todo Império Romano. É o fim da Igreja Primitiva. Inicia-se a era da Igreja Constantínica, marcada pelo enorme poder político e financeiro da Igreja Cristã.


2. CISMA DA IGREJA CRISTÃ- 1054 D.C. (p.116-7 do livro texto)
O Cisma foi uma divisão na Igreja provocada por opiniões diferentes, formando-se grupos distintos e separados. Gerou uma divisão que permanece até os dias atuais: a Igreja Católica Apostólica Romana (Roma) e as Santas Igrejas Católicas Ortodoxas Orientais (Grega e Russa). Entre as causas desta divisão estão:
a) Divisão política (Império Romano Ocidental e Oriental)
b) Diferenças culturais (línguas diferentes e outros aspectos culturais distintos)
c) Luta pelo poder (Bispo de Roma X Bispo de Constantinopla: o bispo de Roma, por se considerar o sucessor de São Pedro, exigiu primazia sobre os outros bispos da Igreja)
d) Questões teológicas: uso de imagens no culto (controvérsia iconoclasta) e celibato clerical. Roma defendia o uso de imagens e a Igreja Oriental via nisso um perigo de idolatria. Roma exigiu o celibato de todos os religiosos, ao passo que a Igreja Oriental permitia o casamento dos mesmos.




AULA 06

TEMAS ATUAIS DA RELIGIOSIDADE

FENÔMENOS RELIGIOSOS ESPECIAIS
EXORCISMO E POSSESSÃO DEMONÍACA
(demônios = poderes espirituais contrários a Deus)

O tema do exorcismo e possessão demoníaca não é novo e nem está circunscrito às religiões cristãs. Mesmo os povos primitivos trazem crenças que admitem a existência de espíritos do mal que podem “possuir” corpos humanos. Rituais de exorcismo também são encontrados em inúmeras tribos. A análise do fenômeno, porém, será feita a partir de um referencial cristão. Desde já, é preciso afirmar que este é um tema muito controverso, havendo inúmeras e discordantes interpretações para o mesmo, conforme descreveremos a seguir.

CARACTERÍSTICAS DE UMA POSSESSÃO

O possesso está à mercê do demônio; perda da identidade própria e da liberdade sobre seu pensar e agir; alienação.
Há uma “batalha” entre o demônio e o exorcista (Jesus X demônio).
As ações dos demônios vêm acompanhadas de traços violentos e destrutivos, em relação ao próprio possesso e o seu meio ambiente.

SINTOMAS RELACIONADOS À POSSESSÃO DEMONÍACA
SINTOMAS FÍSICOS
SINTOMAS PSÍQUICOS
SINTOMAS ESPIRITUAIS
Força sobre-humana
Clarividência
Caráter imoral (profanidade, nudez, linguajar obsceno...)
Expressão facial alterada
Telepatia
Ameaça verbal ou física a tudo que representa Cristo
Mudança na voz (aspereza. zombaria, rouquidão...)
Habilidade para predizer o futuro.
Entrar em estado de transe quando alguém ora.
Convulsões, prostração
Habilidade para falar em línguas estrangeiras desconhecidas da pessoa possuída.
Incapacidade de confessar Jesus de forma reverente.
Insensibilidade à dor
Estado de transe
Fenômenos poltergeist (ruídos inexplicáveis, telecinesia, odores ruins,...)

Critérios para possessão do Rituale Romanum (escrito há séculos atrás) da Igreja Católica:

O possesso deve falar diversas palavras de um língua estranha ou entender o que alguém diz numa língua desconhecida.
Deve ser capaz de relatar fatos secretos ou acontecidos em lugares distantes.
Deve demonstrar forças que excedam a sua idade e transcendam a possibilidade de que a natureza humana dispõe.

INTERPRETAÇÕES ATUAIS E DIFERENCIADAS DO FENÔMENO POSSESSÃO

A. Doença, espíritos ou apenas fraude? Diferentes interpretações da “possessão”.


Interpretação bíblico-cristã
As Igrejas cristãs têm como fonte de suas doutrinas as Sagradas Escrituras (Bíblia), de modo mais especial o Novo Testamento. A partir deste pressuposto, as religiões cristãs admitem a existência e ação de seres espirituais maléficos, chamados de demônios. Há muitos textos bíblicos que mostram Jesus Cristo e também os seus discípulos expulsando demônios. Há, porém, diferenças entre as Igrejas cristãs tradicionais (Católica, Luterana, Batista, Metodista, Presbiteriana, etc) e pentecostais/neopentecostais (Deus é Amor, Universal do Reino de Deus, etc), no que tange a prática de rituais exorcistas e na própria interpretação do que pode ser considerado possessão demoníaca. Logo a seguir trataremos disso.

Interpretação desmitologizante
Baseada na parapsicologia, que procura diferenciar fenômenos verdadeiros daqueles que não são, desmascarando e desmistificando fraudes e truques. Os fenômenos verídicos podem ser produtos de uma mente perturbada, fruto de uma psicorragia, isto é, uma energia mental que foge ao controle voluntário humano, gerando fenômenos paranormais que se fazem presentes no indivíduo e no ambiente em que o mesmo se encontra, tais como tiptologia, telecinesia, xenoglosia, glossolalia, clarividência, etc. Esta linha de interpretação tem como representante conhecido no Brasil o padre Oscar Quevedo.

Interpretações psicológico-psiquiátricas
As possessões são interpretadas como casos de transtornos mentais. A psiquiatria, ao descrever as psicoses e esquizofrenias, elenca uma série de sintomas que se aproximam das relatadas nas possessões espirituais, como delírios, alucinações visuais, auditivas, táteis entre outras. Podemos ainda citar crises histéricas, dissociações de personalidade, e até mesmo crises de epilepsia e convulsões que, muitas vezes, foram e ainda são confundidas e interpretadas por alguns religiosos como possessões.
O psiquiatra Rogério Zimpel afirma que os transtornos dissociativos talvez sejam o grupo de perturbações mentais que mais se confundam com os fenômenos espirituais, englobando os transtorno de personalidade múltipla (ou dissociativo de identidade) e ainda o transtorno de despersonalização. É importante afirmar que ainda existe pouca literatura psiquiátrica e psicológica que trabalhe simultaneamente com os dois paradigmas, a saber, o psíquico/científico e o espiritual/religioso.[12]

Interpretações sociológicas
As possessões são vistas como comportamentos de protesto por parte de pessoas oprimidas, que não têm condições de buscar ajuda de cunho profissional, como médicos-psiquiatras, psicólogos e outros terapeutas. Tais pessoas encontram em igrejas um espaço de livre expressão de sua condição de opressão, que serve também de espaço terapêutico para as mesmas.

Fenômenos catárticos
Uma outra interpretação, ligada à anterior, afirma que os fenômenos observáveis numa “possessão” nada mais são do que uma descarga externa de muita opressão, violência e repressão, cuja expressão livre é favorecida pelo ambiente sugestivo do culto. São os “demônios internos” de um indivíduo, o conjunto de muitas frustrações reprimidas, que são colocadas para fora, numa catarse individual e/ou coletiva.

Fraude
Uma das interpretações é de que algumas igrejas podem fazer uso de estratégias teatrais para gerar espanto e admiração do público, treinando indivíduos para se fazerem passar por endemoniados. Pressupõe má fé e falta de ética de religiosos.
Não se pode, a priori, dizer qual das interpretações é a mais acertada, até porque cada situação deverá ser analisada individualmente, podendo ser qualquer uma das propostas acima.

B. Visões religiosas diferentes da “possessão”

Vamos ver como as diversas religiões tratam do fenômeno que, mesmo não sendo o mesmo em cada uma delas, estruturalmente se mostram muito semelhantes.
Religiões afro-brasileiras: afirmam que os eguns, espíritos zombeteiros de pessoas falecidas, podem importunar ou atormentar os vivos. Nos cultos afro, diversas entidades também “ocupam” ou incorporam (“baixam”) nos indivíduos (médiuns), porém estas entidades não são vistas como espíritos malignos.
Doutrina espírita (Allan Kardec): não crê em demônios, mas em espíritos obsessores de “pouca luz”. Andrade[13] define obsessão como a ação persistente que um espírito mau exerce sobre um indivíduo, cujas características podem ir desde uma simples influência moral, sem sinais exteriores perceptíveis, até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais.[14] Esta obsessão pode ser de três tipos ou graus. a) Obsessão simples: o sujeito é perseguido tenazmente pela ação mental de um espírito; b) Fascinação: mais grave, pois o espírito passa a controlar os pensamentos e o raciocínio do obsedado, como um processo parasitário; c) Subjugação: há um domínio quase total do espírito sobre a pessoa, moral e corporalmente. As formas de combater a obsessão são a prece, a fluidoterapia (passes e água magnetizada), reuniões mediúnicas de desobsessão e exercício constante do bem.[15]
Religiões cristãs históricas/tradicionais: admitem a possessão, mas após acurada investigação do caso, o que implica levantar todas as possíveis causas racionais para os fenômenos, incluindo diagnósticos médicos e psicológicos. Estas igrejas também diferenciam os conceitos de tentação, influência e possessão demoníaca.
Religiões pentecostais e neopentecostais: afirmam que os demônios atuam intensamente, sendo que todos os males físicos e mentais podem ser sinais de possessão demoníaca. Em movimentos carismáticos a possessão e exorcismo são práticas “comuns”, fazendo parte do cotidiano religioso.
Islamismo: também acredita em demônios. Considera que Satanás e seus filhos, os anjos caídos, chamados de gênios, demônios e duendes podem desobedecer a Deus e possuir o corpo das pessoas. Tais espíritos maus precisam ser expulsos, através do ritual em que se lê o Alcorão e se faz súplicas pela libertação do possesso.
Judaísmo: acredita que espíritos de pessoas que já faleceram (os dibbuks) podem atormentar os vivos.
Hinduísmo: desde os Vedas, textos antigos e sagrados dos hindus, já há menção dos chamados exorcismos medicinais, nos quais se usavam mantras e frases objetivando conjurar e expulsar os demônios.

C. A prática do exorcismo nos dias de hoje
Há dois tipos básicos de exorcismo praticados nos dias atuais: o público e o privado.
1. Privado: a pessoa atormentada é levada para um local reservado. Não há público ou platéia. Os exorcistas (padres ou pastores) realizam o rito de exorcismo que implicará numa “guerra” entre o exorcista e o possuído, o que pode ser traduzido como uma batalha entre o próprio Deus (na pessoa de Jesus) e o demônio. São os exorcismos realizados pelas igrejas tradicionais (ex.: Católica), sempre após acurada investigação psiquiátrica. A Igreja Católica, a partir do Concílio Vaticano II (década de 60) decretou que apenas alguns sacerdotes poderiam expulsar demônios. Já no ano 2000 foi lançado pela Igreja Católica um manual oficial de exorcismo, buscando regulamentar a prática destes rituais.
2. Público: presente em alguns cultos evangélicos de cunho pentecostal (ou neopentecostal). São os chamados cultos de libertação ou sessões de descarrego. Nestes cultos normalmente os demônios manifestam-se em várias pessoas, que são publicamente exorcizadas. Podem ser observados nestes cultos a utilização de vários recursos como:

RECURSOS UTILIZADOS EM EXORCISMOS PÚBLICOS

TRILHA SONORA: melodias leves na hora das bênçãos e acordes pesados quando se menciona demônios e espíritos malignos.
ILUMINAÇÃO: na penumbra os fiéis ficam mais sugestionáveis. Pode-se pedir para fechar os olhos.
FIGURAÇÃO: o burburinho de pessoas rezando e gritando rebaixa os níveis de consciência de fiéis suscetíveis (influência do meio).
ROTEIRO: para evocar demônios os pastores fazem orações repetitivas. Ditas em tom de autoridade e num ambiente emocional soam reais.
COREOGRAFIA: aperta-se e balança a cabeça/corpo do fiel em movimentos circulares. Tontura e falta de apoio induzem ao transe.
SONOPLASTIA: podem ser introduzidos gravações e sons de assombração. Tais ruídos estimulam o inconsciente das pessoas.
ADEREÇOS: incentiva-se os fiéis a que tragam objetos de valor emotivo para serem abençoados e “limpos”. Sal, sabonete de arruda, óleo...
(Fonte deste último tópico: Reportagem da Revista Época, 28 de abril de 2003)


AULA 07

Análise do filme “Lutero” e/ou “O nome da rosa” em sala de aula, relacionando com o conteúdo da disciplina.

VII. O MOVIMENTO DA REFORMA DE 1517
REFORMA PROTESTANTE OU LUTERANA
O DESAFIO DE COMPRENDER A REFORMA
A Reforma precisa ser compreendida numa visão crítica. Apesar de ser um movimento fundamentalmente de caráter religioso, liderado por um monge da ordem dos Agostinianos, Martinho Lutero, ela tem um caráter pluricausal.
Há, portanto, várias teses que procuram explicar o porque de ter acontecido a Reforma. Entre elas: a) tese econômica ou financeira; b) tese política; c) tese da Renascença; d) tese psiquiátrica; e) tese neo-ortodoxa; f) tese religiosa. Parte destas teses são descritas abaixo.
A) Entre os fatores que contribuíram para a Reforma estão:
· Renascença: movimento de reflorescimento da erudição, do pensamento filosófico de Aristóteles. Há uma renovação da arte e da cultura, fortalecimento do humanismo, novas invenções,... Um das marcas da Reforma de Lutero é o racionalismo e o individualismo no pensamento religioso, marcas da Renascença.
· Expansão comercial: grandes e novas descobertas, viagens marítimas, mercantilismo,
· Situação política: A Igreja Católica detinha um poder religioso-político sobre quase toda Europa. Havia um desejo de "libertação" dos príncipes e reis do jugo papal.
· Espírito nacionalista: incentivou a quebra do poder tutelar quase universal da Igreja Católica sobre os diversos Estados da Europa. Valorização da língua, cultura e poder nacional. Criação de religiões nacionais.
· Situação econômica: surgimento de uma nova classe social, a burguesia, base para o desenvolvimento capitalista moderno. A Igreja via a riqueza como uma tentação que podia afastar o ser humano de Deus.
· A realidade dos camponeses: viviam num estado de miséria e semi-escravidão, pagando altos impostos aos senhores feudais e dízimos à igreja (bi-tributação). Gerou movimentos de revolta contra os poderes instituídos (Guerra dos Camponeses).
· Corrupção nas ordens clericais: em Roma havia uma feira que vendia bispados e dioceses. Vendia-se relíquias "sagradas" tais como: cabelos de João Batista, dentes de Sao Jerônimo, a bacia de Pôncio Pilatos, espinhos da coroa de Cristo, palhas do berço de Jesus, moedas de Judas Iscariotes,... A Igreja tinha virado um grande e lucrativo comércio. Outros exemplos de corrupção: promiscuidade sexual (Bispo Henrique de Liège tinha 65 filhos ilegítimos, as "pernadas" dos frades de São Teodardo,...
· Simonia: era prática comum a compra de cargos eclesiásticos por parte de leigos. Um nobre poderia comprar um cargo de bispo, arcebispo ou de cardeal, usufruindo de todas as regalias e poderes que o título religioso conferia. Isto gerou uma promiscuidade no alto clero, que ajudou a desacreditar a Igreja perante o povo. Após a Reforma a Igreja Católica extinguiu a prática da simonia.
· Gutemberg: o uso da impressão tipográfica permitiu a cópia da Bíblia em escala maior, disseminando o princípio da Reforma, de que cada cristão deveria ter acesso livre à leitura e interpretação da Palavra de Deus. Impulsionou a quebra do "poder" monolítico que a Igreja tinha acerca das verdades divinas da Escritura Sagrada.
· A situação da Alemanha no séc. XV (berço da Reforma): não tinha um poder centralizado; havia vários senhores feudais; economia agrária; pagamento de impostos feudais e dízimo da Igreja; a Igreja Católica era proprietária de grandes extensões de terra.
· Surgimento de ordens religiosas mendicantes: após o Cisma de 1054 foram surgindo várias seitas e movimentos que contestavam os dogmas papais e sugeriam uma vida de total desapego aos bens materiais. Afirmavam que a Igreja deveria ser pobre e humilde tal como fora Jesus Cristo. Ordem dos Franciscanos, Valdenses, Albigenses, ...
· Pré-reformadores: antes de Martinho Lutero vários outros religiosos já lutavam contra os rumos que a Igreja estava tomando. Vários foram mortos como John Huss, queimado pela Inquisição. Savonarola, Pedro Valdo, Guilherme de Ockam, Francisco de Assis, John Wycliff são alguns dos chamados pré-reformadores, que prepararam o caminho para a reforma de Martinho Lutero.
· Questão religiosa: em 31 de outubro de 1517 Lutero propõe um debate sobre a questão da venda das indulgências, afixando 95 teses na porta da Catedral do Castelo de Wittenberg. Nelas, afirma que o ser humano não é salvo pelas indulgências, ou pelo papa, ou pela igreja ou pelas obras que faz, mas que é salvo unicamente pela fé em Cristo, na obra realizada por Ele na cruz. Ficou conhecida como a Teologia da Cruz. Só se conhece o amor de Deus pelos homens a partir da obra do Salvador Jesus Cristo na cruz.
· Observação importante sobre a questão religiosa: na Idade Média se ensinava que Deus era um carrasco, um juiz severo e vingativo. Se você não cumpria o que Deus exigia você tinha que pagar pelo erro cometido para poder se relacionar com Deus e assim obter sua salvação. Daí surgiu a grande fonte geradora para a compra e venda das indulgências (compra do perdão, que variava no seu valor de acordo com a gravidade do pecado cometido). Para Lutero, o perdão não podia ser comprado, mas eram necessários o arrependimento sincero, a confiança na graça e misericórdia de Deus e o desejo de mudar de atitude. É chamada de Teologia da Graça. "Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie". Efésios 2.9-10
FATOS DE DESTAQUE NO PROCESSO DA REFORMA (Livro texto - p.117 ss)
Dieta de Worms (1521): convocada pelo Imperador Carlos V para obter a retratação de Lutero e a submissão dos príncipes alemães que queriam libertar seus domínios. Como não conseguiram, foi assinado o Edito de Worms, para extinguir pela força as tropas protestantes.
Guerras religiosas na Alemanha: feitas por nobres empobrecidos, com pretexto religioso, para reaverem seus bens e terras da igreja. Destacam-se as revoltas dos Nobres e dos Camponeses.
2 .a Dieta de Espira (1529): protesto dos príncipes; daí o nome de "protestantes". Nela foi firmada a paz entre Carlos V, Francisco I e o Papa Clemente VII, que se uniram contra o avanço da Reforma (houve muitos atritos políticos entre os três).
Dieta de Augsburgo (1530): Melanchton sintetizou a doutrina de Lutero; surge a Confissão de Augsburgo.
Liga de Esmalcalda (1531): organizada pelos príncipes protestantes para combater o Imperador Carlos V.
Paz de Nüremberg: para combater o exército turco, liderado por Solimão, o Magnífico, que estava prestes a invadir o Sacro Império e implantar a fé muçulmana entre os cristãos, Carlos V precisou pedir auxílio econômico e militar aos poderosos exércitos dos príncipes germânicos, assinando a Paz de Nüremberg em 1532; após várias outras guerra civis, em 1555 houve a assinatura da Paz de Augsburgo; com isso cada príncipe poderia escolher a religião a ser seguida por seus súditos em seus domínios.

LUTERO: O EDUCADOR

Uma das marcas da Reforma foi o impacto da mesma na educação da Alemanha. A primeira escola luterana foi criada em 1524, em Magdeburgo, que foi o início da criação de inúmeras outras escolas elementares, que contribuíram para o sucesso da Reforma. Lutero, ao defender a criação das escolas disse: “Seria bom e justo...que sempre que se dê um florim para a luta contra os turcos, se dêem cem para a educação.” Na época de Lutero havia bons professores, mas grande parte das crianças não tinha instrução adequada. Lutero e seus colaboradores adaptaram os currículos das escolas às necessidades específicas da Reforma, dividindo-a em três níveis, com estudos específicos para cada nível. Lutero também insistiu que as escolas tivessem salas e materiais didáticos adequados e enfatizou a necessidade de se terem boas bibliotecas. Um dos aspectos mais relevantes em Lutero como educador foi sua ênfase em permitir que também as meninas tivessem acesso à educação regular. Também insistia que os cofres públicos providenciassem bolsas de estudo para alunos carentes, o que possibilitou que a educação deixasse de ser um privilégio dos ricos.
(Fonte: condensado de artigo de Ari Gueths, Igreja Luterana, 1º Trimestre de 1983)

A ULBRA (ver livro texto O Homem e o Sagrado, p.184-187)

A Universidade Luterana do Brasil – ULBRA é um exemplo da herança da Reforma, no que tange à preocupação de Lutero de que deveria haver “ao lado de cada igreja, uma escola”. De uma pequena escola, em 1966, a Comunidade Luterana São Paulo, de Canoas, sob a orientação do Rev. Rubem E. Becker, passa a investir na educação, transformando a pequena escola paroquial em uma escola profissionalizante. Em 1968 é lançada a pedra angular que deu origem ao Colégio Cristo Redentor, que tornou realidade o ensino profissionalizante de segundo grau, sendo inaugurado em 7 de maio de 1969. O investimento na educação continuou no sentido de transformar a escola também numa instituição de ensino superior. Em 1972 foi aprovado o funcionamento da Faculdade Canoense de Ciências Administrativas, sendo logo a seguir implantados novos cursos. Em 1978 adquiriu-se a área em que atualmente encontra-se o campus central da Universidade, já com vistas à criação de uma universidade, cuja autorização ocorre em janeiro de 1988, com o nome de Universidade Luterana do Brasil, cuja rede hoje se estende hoje por todo o país. A Ulbra, em sua filosofia, acredita na possibilidade de oferecer uma formação integral do ser humano, com intuito de construir uma sociedade mais justa, na busca de formar profissionais capazes, honrados, honestos, sábios e humanos, que respeitam os valores morais e éticos, ainda que numa sociedade demarcada pela competitividade.
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EXPANSÃO DA REFORMA
• Zwínglio e João Calvino: este iniciou a Reforma na França; após ser perseguido fugiu para Genebra, Suíça.
• Calvinismo: doutrina resumida na Instituição Cristã (1536) - defende a predestinação e o culto simplificado (sem imagens e sem sacerdotes). Alem da França atingiu a Inglaterra (puritanos) e a Escócia (presbiterianismo; fundado por João Knox - 1560).
• Na Inglaterra: teve início com Henrique VIII por motivos político-econômicos e pessoais (O Papa não queria dar a Henrique VIII o divórcio com Catarina de Aragão para casar com Ana Bolena). Daí, em 1533, surge a Igreja Anglicana. A perseguição religiosa originou emigrações para países americanos.


CONTRA-REFORMA OU REFORMA CATÓLICA
A partir da Reforma Protestante a Igreja Católica viu-se na necessidade de promover uma reforma nos seus costumes para preservar a si própria e evitar um esfacelamento ainda maior. O Papa Paulo III convocou o Concílio de Trento (1545-1563) que estabeleceu as seguintes medidas.
• Rejeição ao Protestantismo
• Manutenção dos sete sacramentos
• Obrigatoriedade do uso do latim na missa
• Manutenção do celibato para sacerdotes
• Fim da venda das indulgências
• Restauração dos tribunais da Santa Inquisição sob o nome de Santo Oficio
• Reafirmação da doutrina das boas obras
• Criação do Index Librorum Prohibitorum (índice de livros proibidos pela igreja)
• Criação da Companhia de Jesus (Jesuítas), fundada por Inácio de Loyola (1534)
• Exigência de que os eclesiásticos se formassem nos seminários (fim da prática da simonia)

Fundamentos ainda comuns a Católicos e Luteranos: A Bíblia como fonte sagrada; Os credos apostólico e niceno; O Pai-Nosso; As principais festas cristãs (Natal, Páscoa, Pentecostes, Ascensão,...); O batismo; A missa ou culto com Liturgia; O calendário litúrgico; Símbolos, costumes e hinos; crença em anjos, ressurreição, apocalipse, céu e inferno, ...

LINHA DO TEMPO DO CRISTIANISMO ATÉ A CONTRA-REFORMA CATÓLICA
(para melhor compreensão e análise do filme O Nome da Rosa)

# 33 = Pentecostes: início “oficial” do Cristianismo enquanto religião
# 391 = Fim da Igreja Primitiva e início da Igreja Constantínica (Imperador Constantino concede poder e riqueza à Igreja Cristã)
# 1054 = Cisma do Oriente (1ª Grande divisão da Igreja Cristã)
1220 = Ordens religiosas como os Franciscanos e Dominicanos ganham força
1300 = Ressurgem os escritos de Aristóteles e aumentam as ordens mendicantes na Igreja
1318 = Eclode a questão religiosa a respeito da pobreza de Cristo e dos apóstolos (e da Igreja)
1322 = Guilherme de Ockam é preso pela Igreja
# 1327 = Ano em que se passa o filme “O Nome da Rosa”
1328 = Guilherme de Ockam é solto pelo papa
1331 = Morre o Inquisidor Bernardo Guidonis (Bernardo Gui), que queimou 630 hereges
1513 = Papa Leão X reconhece a ordem Franciscana
# 1517= Início da Reforma Protestante ou Luterana (publicação das 95 teses)
1531 = Paz de Nüremberg
# 1545 = Contra-Reforma Católica (movimento de reformulação da Igreja Católica Romana)
APÊNDICE - ORIGENS DO PODER DA IGREJA CRISTÃ
Analisando o contexto da época, Lutero escreveu que a Igreja de Roma cercou-se de três muros, que a protegiam e a mantinham no poder:
1. O poder espiritual está acima do temporal. O papado comanda a política.
2. Exceto o Papa, ninguém pode interpretar as Escrituras.
3. Somente o Papa pode convocar Concílios.
Há três elementos que podem ser usados para dominar a humanidade: a) Poder; b) Dinheiro; c) Sabedoria e astúcia (a Igreja controlava a educação para seus próprios interesses). Os três a Igreja da época tinha.


Documentos históricos que explicam o poder da Igreja Cristã na Idade Média

858 A.D. – A doação de Constantino
A doação é um documento que a Igreja diz ter sido entregue pelo Imperador Constantino ao papa Silvestre I (314-335), em que declara outorgar ao papa, entre outras doações, os seguintes privilégios e possessões:
1.º O bispo de Roma, como sucessor de São Pedro, deve ter a primazia sobre os 4 bispos de Antioquia, Alexandria, Constantinopla e Jerusalém. Do mesmo modo, sobre todos os bispos do mundo.
2.º A basílica de Latrão em Roma, construída por Constantino, deveria superar todas as igrejas como sede.
3.º O bispo de Roma deve gozar os mesmos direitos honoríficos como o imperador, entre eles o direito de usar uma coroa imperial, um manto purpúreo e túnica e, em geral, todas as insígnias imperiais ou sinais de distinção.
4.º O imperador dá de presente ao bispo de Roma e aos seus sucessores o Palácio de Latrão, todas as províncias da cidade de Roma e todas as províncias, distritos e cidades da Itália e dos territórios ocidentais.


847 A.D. AS DECRETAIS DE ISIDORO

As decretais são uma coleção de cartas papais de 33 papas, coligidas por um certo Isidoro. Desde Silvestre I (314-335) até Gregório II (715-731). Amostra das decretais:
1.º Um leigo não pode levantar acusação contra um bispo.
2.º Um clérigo não pode levantar acusação contra o seu superior.
3.º A condenação de um bispo requer 72 testemunhas.
4.º Um bispo não pode ser acusado nem condenado perante um tribunal secular.




O CRISTIANISMO E SUAS SUBDIVISÕES

O Cristianismo, assim como quase todas as grandes religiões, é subdividido em diversos grupos ou correntes.
O primeiro grande grupo é formado pelo Catolicismo (Igreja Católica Apostólica Romana). Dentro da Igreja Católica, atualmente podem se encontrar grupos com posturas um pouco diferentes. Dois deles são: o movimento Opus Dei, bastante tradicional e o Movimento Carismático Católico, que insere-se na corrente pentecostal. (Ver TV Canção Nova)
O segundo grupo são os Ortodoxos, nascidos no Cisma de 1054. Suas principais igrejas são as Ortodoxas Russa e Grega.
O terceiro grupo são os Protestantes, nascidos em 1517 com a Reforma. Fazem parte dos Protestantes religiões como Luteranos, Batistas, Metodistas e Presbiterianos. Do tronco protestante surgiram ramificações. A mais importante surgiu no início do século 20, nos EUA, chamada de Pentecostalismo, que chegou ao Brasil em 1950.
O grupo cristão mais recente é o Neopentecostalismo, que prosperou nos EUA nas décadas de 1960-70, chegando logo ao Brasil.

Algumas diferenças atuais entre a Igreja Católica e Luterana

IGREJA CATÓLICA
IGREJA LUTERANA
1. Possui 7 sacramentos: batismo, crisma, eucaristia, confissão, unção dos enfermos, ordem e matrimônio.
1. Só aceita 2 sacramentos: batismo e santa ceia (eucaristia)
2. Exige o celibato clerical (padres não casam).
2. Aboliu o celibato (pastores casam-se)
3. Submetem-se ao papa, cujas decisões são infalíveis.
3. As igrejas são independentes entre si, apesar de haver uma direção nacional.
4. Veneram, oram e cultuam a Virgem Maria e demais santos.
4. Apenas veneram, oram e cultuam a Santíssima Trindade. (não há imagens de santos nem se ora a eles).
5. Não aceitam o divórcio nem métodos contraceptivos artificiais.
5. Admitem o divórcio e métodos contraceptivos artificiais.
6. Crença no purgatório, céu e inferno.
6. Crença em céu e inferno, sem purgatório.
7. Realiza orações e missas em favor dos mortos.
7. Orações e cultos apenas em favor dos vivos/enlutados.



AULA 08

Aula em forma de micro-seminários das grandes religiões.
VIII. GRANDES RELIGIÕES DA HUMANIDADE: VISÃO GERAL E SUCINTA
Contabilizar o número exato de religiões no mundo atual tornou-se tarefa impossível. Mais complexa ainda se torna esta contagem se quisermos contabilizar o número de seitas ou igrejas que nascem a cada dia. Segundo o jornal Folha de São Paulo (29 de janeiro de 2006, caderno C 1), somente na cidade de São Paulo abre-se uma nova igreja a cada dois dias. Certamente, muitas destas igrejas não sobrevivem por longo tempo, fechando logo a seguir. Porém, quando falamos em grandes religiões, não queremos nos referir a igrejas ou seitas, mas a grandes eixos religiosos que sobreviveram à história e dos quais se originaram (e ainda se originam) uma quantidade infindável de outras correntes religiosas. Vamos elencar aqui as chamadas grandes religiões: Hinduísmo, Budismo, Taoísmo, Confucionismo, Xintoísmo, Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. Algumas destas serão aqui descritas brevemente. O aprofundamento das religiões pode ser buscado nos livros indicados na bibliografia, enciclopédias e sites de busca na Internet. É provável que se encontre discrepâncias nos dados coletados em fontes diferentes.
1. HINDUÍSMO:
a) Origem, fundador: Povos arianos que invadiram o vale do rio Indo, por volta de 1500 a.C. (atual Índia): b) Região predominante e número aproximado de adeptos: Índia, Ceilão, Ilhas Fiji (e colônias de imigração indiana). Cerca de 850 milhões de adeptos. c) Fonte doutrinária ou livros sagrados: Vedas , Upanishades e outros; d) Principais crenças, doutrinas e dogmas: transmigração das almas (metempsicose – mais amplo que reencarnação); crença no Karma e no Nirvana; e) Principais ritos e costumes: banho no rio Ganges, cremação, vegetarianismo, sistema de castas, yoga,...; f) Idéia de Deus: visão pluralista que vai do panteísmo ao ateísmo, podendo passar pelo politeísmo, henoteísmo e pode chegar ao monoteísmo Brahmânico. Crença e adoração a inúmeras divindades (Brahma, Vishnu, Shiva, Kali, Durga, Ganesh,...) e animais sagrados: vaca, elefante, ratos, ..
2. BUDISMO:
a) Origem, fundador: Dissidência do Hinduísmo, fundada pelo Príncipe Sidharta Gautama no Nepal, no séc. VI a.C.; b) Região predominante e número aproximado de adeptos: Leste da Ásia (Indochina, China, Coréia, Japão, Birmânia,...; Cerca de 400 milhões (em franca expansão pelo mundo ocidental); c) Fonte doutrinária ou livros sagrados; Tripitaka (3 cestos sagrados): d) Principais crenças,doutrinas e dogmas: reencarnação, lei do karma e nirvana; 4 verdades nobres, 5 deveres morais; e) Principais ritos e costumes: meditação, vida contemplativa; preces, oferendas; f) Idéia de Deus: prega o ateísmo ou inexistência de um Deus pessoal. Observação: a grande diversidade de correntes budistas hoje dificulta sua descrição exata.
3. TAOÍSMO:
a) Origem, fundador: fundado por Lao-Tsé, no séc.VI a.C., na China; b) Região predominante e número aproximado de adeptos: China e Coréia; o número de adeptos está em torno de 56 milhões, podendo chegar a 180 milhões de taoístas “mistos”; c) Fonte doutrinária ou livros sagrados: livro Tao-Teh-King ; d) Principais crenças,doutrinas e dogmas: O Tao é o caminho da virtude e felicidade; respeito e contemplação da natureza; crença no Yin e Yang; harmonia e equilíbrio com o universo ; e) Principais ritos e costumes: contemplação, alimentação integral, festa do Dragão, alquimia, ; f) Idéia de Deus: não há um deus pessoal, mas uma força cósmica suprema, presente em tudo e em todos.
4. XINTOÍSMO:
a) Origem, fundador: ancestrais primitivos do Japão, mitológica, sem datação histórica, porém muito antiga; b) Região predominante e número aproximado de adeptos: Arquipélago do Japão, com cerca de 80 milhões de adeptos; c) Fonte doutrinária ou livros sagrados: Kojiki e Nihonji; d) Principais crenças,doutrinas e dogmas: crença e culto aos “kamis” (espírito dos antepassados); obediência ao Imperador, respeito à família e anciãos; e) Principais ritos e costumes: culto aos antepassados (kamis), veneração ao imperador, oferendas nos santuários; f) Idéia de Deus: Há uma deusa maior, “Amaterazu”, porém pode ser considerada uma religião panteísta (adoração ao monte Fuji, rios, árvores...).
5. JUDAÍSMO:
a) Origem, fundador: Abraão (pai do povo judeu) e Moisés (codificador e organizador da religião), na Palestina, cerca de 1800 a.C. ; b) Região predominante e número aproximado de adeptos: cerca de 18 milhões, especialmente radicados nos EUA e Israel; estão presentes nas colônias de imigração judaica em todo o mundo; c) Fonte doutrinária ou livros sagrados: Torah (Lei), escritos proféticos históricos e poéticos (Bíblia Hebraica = Antigo Testamento dos cristãos); Também o Talmude (comentários sobre a Torah) ; d) Principais crenças,doutrinas e dogmas: Criação-Revelação-Juízo; Céu e Inferno; crença em anjos, nos profetas e num futuro Messias; leis morais imutáveis; ressurreição; e) Principais ritos e costumes: guardar o sábado, alimentação kosher, circuncisão, obediência aos mandamentos, Páscoa, Dia do Perdão, muitas festas, Jerusalém como cidade sagrada, jejum,...; f) Idéia de Deus: Monoteísta: crença em Jeová (ou Javé). Observação: atualmente as diferentes correntes judaicas possuem crenças e costumes diferenciados.
6. CRISTIANISMO
a) Origem, fundador: Jesus Cristo, no ano 30 , na Palestina; b) Região predominante e número aproximado de adeptos: Europa e América; cerca de 1, 8 bilhão de adeptos; c) Fonte doutrinária ou livros sagrados: Bíblia Sagrada (Antigo e Novo Testamento); d) Principais crenças,doutrinas e dogmas: Criação-Revelação-Juízo; Céu e Inferno; Segunda vinda de Cristo, redenção do ser humano pela obra de Jesus na cruz; crença em anjos, sacramentos (Batismo e Comunhão); e) Principais ritos e costumes: obediência aos 10 mandamentos, cultos e missas litúrgicas; orações, Jerusalém como cidade sagrada...; f) Idéia de Deus: Monoteísta; crença no Deus Triúno: Pai, Filho e Espírito Santo. Observação: O Cristianismo é hoje dividido por inúmeras correntes: Católicos, Católicos Ortodoxos, Protestantes, (há inúmeros grupos evangélicos, os de tradição histórica e os pentecostais, entre outras subdivisões). Há diferenças significativas em alguns destes grupos, especialmente quanto a ritos e costumes.
7. ISLAMISMO:
a) Origem, fundador: Maomé (Mohamed), no ano de 622, em Meca, Arábia Saudita ; b) Região predominante e número aproximado de adeptos: Disseminado por todo o mundo, porém com concentração maior no Oriente Médio, Norte da África e Indonésia. Chega hoje próximo a 1,3 bilhão de adeptos; c) Fonte doutrinária ou livros sagrados: Alcorão, com 114 suras; d) Principais crenças,doutrinas e dogmas: Criação-Revelação-Juízo; predestinação; Céu e Inferno; crença em anjos; observância dos 5 pilares da fé; e) Principais ritos e costumes: jejum, rituais de purificação, orações diárias, alimentos proibidos, esmolas, cidades sagradas (Meca, Medina e Jerusalém)...; f) Idéia de Deus: Monoteísmo; crença em Alá. Observação: as duas grande correntes islâmicas são divididas em xiitas (20%) e sunitas (80%). O terceiro e menor grupo são os sufis (místicos).

AULA 09

TEMAS ATUAIS DA RELIGIOSIDADE

AS RELIGIÕES EVANGÉLICAS PENTECOSTAIS E NEOPENTECOSTAIS

A tabela abaixo procura mostrar as semelhanças e diferenças entre os movimentos pentecostais e neopentecostais. Os tópicos abaixo podem não corresponder exatamente, sofrendo pequenas variações nas diferentes denominações religiosas arroladas.


PENTECOSTALISMO
NEOPENTECOSTALISMO
Quem é
Congregação Cristã no Brasil, Deus é Amor, Assembléia de Deus, Brasil para Cristo,...
Universal do Reino de Deus, Evangelho Quadrangular, Sara Nossa Terra, Internacional da Graça de Deus, Renascer,...
Paraíso
A vida na Terra é uma fase de espera. Qualquer sofrimento é mínimo se comparado às maravilhas do céu.
Após a morte, todo cristão será recompensado com o Paraíso. Mas é possível vivê-lo na Terra, recebendo as graças de Deus.
Dízimo
O fiel deve dar à Igreja regularmente 10% de seu salário.
Idem, mas pagando o dízimo o fiel ganha o direito de exigir que Deus o recompense.
Prazeres
Quem é atraído por prazeres mundanos está se concentrando menos em Deus – e abrindo espaço para o Diabo.
Não há nada errado em se divertir, desde que isso seja feito de forma moderada, sem excessos.

Sexo
Sexo serve para reprodução. O prazer pode ser perigoso.
Prazer sexual é uma bênção de Deus, desde que a relação seja entre marido e mulher.
Vida social
Deve ficar restrita à comunidade. Álcool e música que não fala de Deus não são para crentes.
Não se deve beber, nem fumar, mas não é necessário se isolar da sociedade.
Aparência
Algumas igrejas impõem trajes formais e proíbem a depilação e o corte de cabelo.
A escolha da roupa é uma questão de gosto pessoal. Usar maquiagem e ser um pouco vaidoso não é proibido.
Tabus
Adultério, homossexualismo e aborto são inaceitáveis.
Idem, idem, idem
Fonte: Revista Superinteressante, Fevereiro 2004, p.59 (foram feitas pequenas adaptações)

Nas últimas seis décadas o número de evangélicos vem aumentando consideravelmente no Brasil. De 3% da população em 1949, para 15% em 2000. Alguns dos motivos que os estudiosos apontam para explicar este grande crescimento religioso dos evangélicos, especialmente os neopentecostais são:

a) Empresas modernas: organizaram-se como empresas, adotando o marketing religioso e uma estrutura hierárquica rígida.
b) Uso dos meios de comunicação: ampliaram o uso da mídia (rádio, TV e jornal), com alta tecnologia para a preparação religiosa. Sabem vender seu produto e atrair fiéis.
c) A situação de crise: atraíram as levas de miseráveis e excluídos atingidos pela crise econômica. Sabem dialogar com as necessidades dos pobres, propondo soluções e injetando ânimo. Produzem um discurso que faz sentido à mentalidade popular.
d) Identifica e combate os males: adotam a “teologia da guerra espiritual”, interpretando os males, as desgraças, os problemas e as feridas existenciais das pessoas. Os rituais vão no sentido de vencer os demônios causadores desses males da atualidade.
e) Promessa de riqueza na terra: empregam a “teologia da prosperidade”, prometendo felicidade e fartura em vida. Fazem uma leitura bíblica contrária ao Catolicismo, que exalta a pobreza como virtude.
f) Fortalece os fiéis pela conversão: ao serem convertidos, os fiéis sentem-se eleitos por Deus. Tornam-se otimistas, empreendedores, enfrentam desafios e problemas.
g) Rituais diferentes e emocionais: ninguém fica insensível aos rituais. É comum o fiel ser levado às lágrimas, por alegria ou tristeza, em efusões e êxtases. Religião que oferece variedade de cultos e atrações.
(Fonte: Jornal Zero Hora, 27/07/2003, p. 5)


MOVIMENTO CARISMÁTICO CATÓLICO
Extraído do site: http://www.sbpcnet.org.br/livro/60ra/resumos/resumos/R4958-1.html Acessado em 02/03/2009

A RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA NA SINTONIA DA REDE CANÇÃO NOVA( Rita de Cássia Aguiari Barbosa – PUC de São Paulo e Eliane Hojaij Gouveia - Profa. Dra. - Depto. de Antropologia - PUC-SP-Orientadora)

INTRODUÇÃO:
A presente pesquisa é parte do projeto “Pluralismo Religioso e Mídias Eletrônicas” do Núcleo Religião e Sociedade e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUC-SP, e está centrada nas transformações que o catolicismo vem sofrendo nas últimas décadas. Assim, a pesquisa buscou entender como a Igreja Católica tem utilizado a Televisão - importante meio de comunicação de massa - a serviço da Fé. O canal da Comunidade Canção Nova, mantido pela Fundação João Paulo II, foi objeto de investigação. O estudo refere-se às bases de formação desta comunidade, público-alvo, formas de evangelização e de sustento. Além disso, delineia a caracterização da produção televisiva, com a finalidade de conhecer melhor suas características, necessidades e demandas. O estudo traçou, também, o perfil dos receptores dos programas da Rede Canção Nova. Dessa forma, caracterizou-se a trajetória do movimento religioso católico - Canção Nova, suas mudanças e aspectos permanentes, tanto na produção de tele programação, quanto na vida dos fiéis.

RESULTADOS:
A mídia eletrônica marca a modernidade, era na qual as formas simbólicas extravasam locais compartilhados da vida cotidiana e na qual a circulação das idéias não está mais restrita ao intercâmbio de palavras em contextos de interações face a face. Os diversos meios de comunicação religiosos utilizam as instituições midiáticas para produzir e difundir as formas simbólicas associadas à salvação. No Brasil, a Igreja Católica viveu nas duas últimas décadas a experiência de um “sopro reanimador” – o do movimento carismático. Ele revalorizou as emoções na relação com o sagrado, animou os cultos com cantos e danças, revigorou a crença em curas e pôs em primeiro plano o fervor no Espírito Santo. Sem a intervenção da Renovação Carismática, os dados remetem à suposição de que teriam sido maiores as perdas do catolicismo para as igrejas pentecostais evangélicas. Paralelamente à expansão nas igrejas, a RCC aderiu também aos meios de comunicação de massa, possuindo atualmente quatro emissoras nacionais. Por ser a mais antiga e também considerada um dos maiores sistemas de evangelização do Brasil, com abrangência nacional e internacional, optou-se por dedicar atenção investigativa a Rede Canção Nova, o que permitiu demonstrar a relevância desse movimento para a sociedade.
CONCLUSÕES:
A luta pelo domínio do campo religioso é uma realidade e está presente especialmente no campo simbólico, muito representado pela mídia, que fortifica, cria e revive o “habitus” religioso, levando a formação para dentro dos lares. A televisão é uma das principais formadoras de opinião para grande parte da população estudada. Dessa forma, o objetivo de estudar e acompanhar a programação da Rede Canção Nova visou colaborar para que este não se torne - como lembra Bourdieu - um meio de “opressão simbólica”. A proposta da Rede Canção Nova é participar da produção, reprodução e distribuição dos bens simbólicos na moderna sociedade brasileira. Presente na possibilidade do “zapear” da batalha simbólica dos fiéis, utiliza meios eletrônicos para vender padrões tradicionais. A recepção da programação televisiva e a identidade do fiel da Canção Nova, analisadas pelas histórias de vida temáticas, permitiu constatar contradição no jogo de forças entre o manejo do eletrônico e a tentativa da Canção Nova de trazer fixidez e centralidade no discurso religioso. A Canção Nova passa pela contradição própria das sociedades globalizadas através da tecnologia e do fluxo informacional, ao mesmo tempo em que fixa os padrões tradicionais do catolicismo carismático.

Instituição de fomento: Conselho Nacional de Deselvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq


IX. TEMAS GERAIS NO CAMPO DA RELIGIOSIDADE
Há inúmeros assuntos que poderiam ser abordados no amplo e complexo universo religioso. Faremos menção a apenas dois deles: as seitas e a questão do exorcismo e possessão.

1. SEITAS RELIGIOSAS ≠ RELIGIÕES

Há uma discussão no mundo religioso do que diferenciaria uma religião de uma seita. Esta é uma questão que envolve juízos de valor, ou seja, muitas seitas não se reconhecem como tal, afirmando ser elas a única e verdadeira religião. Por outro lado, algumas das consideradas religiões poderiam ser enquadradas como seitas ou pelo menos trazer algumas características das mesmas. Alguns critérios que podem ser descritos para tentar caracterizar uma seita seguem abaixo. Um bom filme que ilustra o tema é Helter Skelter, sobre a seita e os crimes cometidos pelo líder e chefe do grupo, Charles Manson, que ainda hoje se encontra preso por seus crimes.

1. DEFINIÇÃO DE SEITA: Seita é uma doutrina ou sistema que diverge da opinião geral e é seguido por alguns indivíduos. É uma comunidade fechada, de cunho radical. Pode ser definida como uma teoria de um mestre, seguida por novos convertidos.

2. CARACTERÍSTICAS GERAIS DE UMA SEITA
a) Isolacionionismo = controle físico, intelectual, financeiro e emocional dos fiéis.
b) Freqüentemente apocalípticos = visão no futuro e promessa de salvação do apocalipse (resgate por uma nave, abdução, arrebatamento,...). Só os membros da seita serão salvos.
c) Ideologia e ensinos peculiares (bastante estranhos) revelados pelo líder.
d) Fazem doutrinação intensa (condicionamento e até “lavagem cerebral”).
e) Usam a privação do sono e do alimento para a conversão. Realizam “testes” de fé.
f) Tem rígido controle moral e de comportamento.
g) Tem interpretação bíblica distorcida e descontextualizada.

3. PERFIL DE UM LÍDER DE SEITA
a) Recebeu revelação especial de Deus ou anjo ou extraterrestre.
b) Reivindica ser a encarnação de uma deidade, anjo ou profeta.
c) Diz ter recebido uma missão especial de Deus.
d) Diz ter habilidades e dons especiais; geralmente é carismático.
e) Está acima de qualquer repreensão e questionamento.
f) Ocupa o lugar de Pai, mãe, pastor, professor, médico,...

4. PERFIL DO POSSÍVEL MEMBRO DE UMA SEITA
a) Desiludido com a religião tradicional e com a própria sociedade;
b) Intelectualmente confuso;
c) Emocionalmente carente;
d) Em busca de metas ou sentido para a vida;
e) Dificuldade financeira ou de saúde.

5. ESTRATÉGIAS DAS SEITAS
a) Bombardeio de afeto (palavras + ações);
b) Contato físico freqüente;
c) Apoio emocional intenso;
d) Ajuda material e financeira concreta;
e) Elogios que tornam o indivíduo o centro das atenções;
f) Contrato de reciprocidade (obrigação e dívida com o grupo);
g) Culpa (sair é trair a Deus e ao grupo);
h) Ameaça (sair da seita significa ser condenado por Deus).

EXEMPLOS REAIS DE SEITAS RELIGIOSAS VIOLENTAS
ANO
DESCRIÇÃO
1969
Charles Manson (se dizia o 5º Beatle, enviado por Deus para guiar a juventude). Seu grupo assassinou inúmeras pessoas.
1977
8 crianças são mortas na praia de Stella Maris pelos líderes da “Igreja Universal Assembléia dos Santos”, por “ordem de Jesus”.
1978
Jim Jones ordena o suicídio coletivo de 932 pessoas na Guiana
1982
A seita “The Ripper Crew” foi acusada de mutilar (cortar seios) e matar 18 mulheres, lendo trechos bíblicos durante o ato.
1985
Nas Filipinas o guru Datu Mangayanon ordena o envenenamento de 60 integrantes da tribo Ata.
1987
Perto de Seul (Coréia) 32 discípulos da sacerdotisa Park Soon-Já cometeram suicídio com veneno.
1992
O líder da seita “Templo do Amor” é acusada de matar 15 pessoas em Miami. Pregava a supremacia negra, acreditando que os brancos são a raça do diabo.
1993
David Koresh, líder da seita “Ramo Davidiano”, morre junto com mais de 80 pessoas num incêndio. Ninguém tentou fugir do fogo.
1993
No Vietnã, 53 habitantes de um bairro, se suicidaram para “chegar no paraíso” prometido pelo chefe Ca Van Liem.
1994
53 membros da seita “Ordem do templo Solar” cometem suicídio coletivo.
1995
A seita japonesa “Ensinamento da verdade suprema”, do guru Shoko Asahara, faz um atentado com gás sarim no metrô de Tóquio. Dez mortos e cinco mil intoxicados. Tinham gás para bombardear toda Tóquio.
1997
39 pessoas da seita “Heaven’s Gate” cometem suicídio, esperando serem resgatados por uma nave espacial.
1998
O pastor da seita “Igreja Pentecostal Unida do Brasil”, no Acre, mata seis pessoas a pauladas e as queima (3 crianças, com apoio dos pais). Queria matar 40 pessoas, libertando-as do diabo, sob ordem de deus.
2000
Cerca de 800 fiéis da seita “Movimento pela Restauração dos Dez Mandamentos” morreram carbonizados na Uganda. Há controvérsias se foi suicídio coletivo ou genocídio.

AULA 10:

AVALIAÇÃO DE GRAU 1 – PROVA EM GRUPO E COM CONSULTA


AULA 11:

CONTEÚDO DE G -2
ESTUDO DA ÉTICA

O que é valor? Quais suas características básicas?
Quais são os tipos de valores que existem?
O que é hierarquia de valores? Há um valor mais elevado/importante?
Qual a origem dos valores? A partir de onde nós os apreendemos?

I. AXIOLOGIA: A DISCIPLINA DOS VALORES

Um dos temas que mais tem gerado discussão na sociedade, seja antiga ou moderna, é a axiologia, a disciplina filosófica que estuda os valores. A palavra axiologia é formada por dois termos gregos: axia que significa valor e logos que significa estudo.
Vivemos cercados por um mundo de coisas. Estas coisas possuem um caráter próprio, peculiar, que nos faz assumir diante delas uma posição de preferência. Isto porque elas se nos apresentam como feias, bonitas, profanas, sagradas etc., mas nunca indiferentes.
Segundo a Axiologia, através da não-indiferença perante as coisas existentes que se ergue o valor. Portanto o valor se caracteriza pela não-indiferença entre o sujeito que aprecia e o ser que se apresenta como objeto de apreciação.
Ser indiferente é não sentir, não perceber, não tomar conhecimento de algo conhecido.
O valor, ou essa não indiferença do sujeito perante as coisas, pode ser positivo ou negativo. Ou melhor, tem que ser positivo ou negativo. O ponto neutro do valor, isto é, a indiferença, seria a própria negação do valor.
Qualquer valor tem que se situar num ou noutro pólo, pois jamais um valor é positivo e negativo ao mesmo tempo. Esta característica dos valores recebe o nome de polaridade. Em conseqüência da polaridade, ou bi-polaridade, não há um valor que seja único, pois ao valor opõe-se o contravalor, isto é, ao bem contrapõe-se o mal, ao melhor contrapõe-se o pior. A parte objetiva do valor, aquilo que no objeto o faz ser desejável ou indesejável, sempre o coloca num pólo, de acordo com a necessidade do sujeito.
É óbvio que o que para um sujeito pode ser um valor para o outro poderá ser um contravalor. Os juízos de valor são muito subjetivos, pessoais e singulares dependendo de uma série de fatores, como: necessidade ou contingência do meio, emoções e sentimentos, formação familiar e cultural (ver quadrinhos), entre outros.

Ao se falar de valores é necessário também fazer uma classificação ou divisão dos diversos tipos de valores que existem numa sociedade. Max Scheller (1874-1928) propõe a seguinte classificação de tipos de valores.
éticos: valores do bem moral (caridade, justiça, honestidade,...);
estéticos: valores ligados ao belo, ligados à expressão, à aparência (artes, música,..);
hedônicos: valores ligados ao prazer, à satisfação, ao agradável;
vitais: valores essenciais para a vida e sobrevivência: saúde, alimento, ...;
úteis: valores que servem como meio para obtermos a satisfação das necessidades;
religiosos: valores que satisfazem as necessidade espirituais do ser humano;
Outras divisões ou tipos de valores podem ser aqui referidos como: materiais, culturais, econômicos, profissionais,...
Os valores, de forma geral, são transmitidos ou integrados aos indivíduos por diversas formas: pela família, igreja, escola, mídia, amigos, profissões, instituições políticas, pela cultura e sociedade e pelas próprias experiências de vida do sujeito.



Dinâmica de grupo:
1) Numere, de 1 a 9, em ordem de importância pessoal (1.ª coluna) ; 2) Discuta com a pessoa ao lado. Devem chegar a um acordo. Reenumere a ordem (2.ª coluna); 3) Discuta em pequenos grupos. Devem chegar a um novo consenso. Reenumere a ordem. (3.ª coluna).
Conhecimento
A busca da verdade, de informações. Princípios para satisfazer a curiosidade e crescer como sujeitos.



Habilidade
Capacidade de utilizar eficazmente seus conhecimentos no desempenho e execução de tarefas.



Justiça
Qualidade de ser imparcial, justo; retidão; conformidade com a verdade e fatos; tratar os outros com justiça.



Amor
Capacidade de ter relações íntimas e profundas com as pessoas; sentimento de devoção, carinho, dedicação e aceitação incondicional das pessoas.



Dinheiro
Posse de valores. Ter dinheiro para sustento, lazer e prazer.



Reconhecimento
Ter a atenção dos outros sobre si, sentindo-se valorizado e importante.



Sexo
Vivência plena da sexualidade e identificação com sua identidade de gênero.



Originalidade
Capacidade de produzir pensamentos, ações e expressões novas e criativas.



Realização
Alcance de objetivos e ideais desejados; sentimento de êxito pessoal.





TEXTOS COMPLEMENTARES
(Base do conteúdo expositivo-dialogado)

1. O MUNDO DOS VALORES: ARANHA, Maria L. de A e MARTINS, Maria H. P. Temas de Filosofia. São Paulo, Moderna, 1992, p.105-108.
ESQUEMA DO CAPÍTULO:
· Introdução: “jeitinho” brasileiro e valoração.
· O que é valor? Diferença entre juízo de fato/realidade e juízo de valor.
· De onde vêm os valores?
· Valores sociais X pessoais; moral constituída x moral constituinte.
· O sujeito moral.

2. A EXISTÊNCIA ÉTICA e A FILOSOFIA MORAL. CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. 4. ed. São Paulo: Ática, 1995, p. 334-342.
ESQUEMA DO CAPÍTULO:
· Senso moral e consciência moral: relato de casos práticos.
· Juízo de fato e de valor.
· Ética e violência.
· Os constituintes do campo ético
· A filosofia moral: Sócrates e o início da ética no Ocidente.

II. MORALIDADE: SENSO E CONSCIÊNCIA MORAL

Ø É o ser humano um ser moral?
- Pressupõe mais dois conceitos:
- Imoral:
- Amoral:
Imoral: indivíduo que sabe discernir o certo do errado, bem e mal, e por opção escolhe o lado errado (tendo como parâmetro regras ou valores sociais, familiares, ou mesmo pessoais). Chamar alguém de Imoral, porém, sempre será um julgamento de valor, pois o que para um pode ser errado para o outro pode ser certo.
Amoral: é o indivíduo que não tem a capacidade de discernir entre o certo e errado, normalmente por algum tipo de distúrbio: debilidade mental, psicoses, efeitos de drogas (?), crianças pequenas(?),...
Ø A sociedade é ética?
- Mesmo que vivamos num mundo que está repleto de violência, corrupção, injustiças, miséria, desigualdades, preconceitos, ... isto não significa que a sociedade não seja norteada por princípios éticos. O fato de muitos não agirem de acordo com a ética não significa que ela inexista. Os grupos, de modo geral, estabelecem princípio éticos que o norteiem: profissões, religiões, famílias, presídios, máfia,...

Ø O que é SENSO MORAL? Todos nós o temos? Como ele se exprime?
Definição: É um sentimento natural, inato ao ser humano e que independe da vontade do indivíduo. Ë expresso fundamentalmente por sentimentos e emoções, podendo manifestar-se também através de ações. O senso moral não precisa estar no plano consciente, nem ter relação alguma com algo teórico, racional ou reflexivo. É o substrato básico, o fundamento sobre o qual se constrói a consciência moral. É a semente da moral.


TEXTO: CONSCIÊNCIA MORAL: O MONITOR DE DECISÕES E AÇÕES
Extraído e adaptado de: RUDNICK, Milton L. Ética Cristã para Hoje. Rio de Janeiro: Juerp, 1991.
Talvez nenhum aspecto da ética seja tão interessante e relevante como a consideração da consciência. Quase todos nós temos consciência operante. Estamos certos disso. Experimentamos suas pressões, lutamos com ela, confiamos nela. Contudo, não há um entendimento geral sobre o que, precisamente, a consciência é. Qualquer um que examina o que tem sido dito e escrito a respeito confronta-se com uma variedade de teorias, definições e descrições. Mas, a despeito dessa diversidade e discordância, há o consenso de que a consciência existe e é indispensável. Para viver bem consigo próprio, com os outros e com Deus, um indivíduo deve ter uma consciência e ser capaz de se relacionar com ela adequadamente.
Há alguns indivíduos a quem falta consciência, ou porque nunca foi desenvolvida, ou porque foi destruída de alguma forma. A pessoa sem consciência é uma ameaça a si e aos outros. Embora possa intelectualmente reconhecer a diferença entre certo e errado, não há suporte emocional para o bem, nem aversão pelo mal. Uma pessoa em tais condições sente-se bem, ou mesmo "grande", fazendo alguma coisa que se sabe ser errada, ou não lamenta ao recusar fazer algo bom e necessário. Ela se constitui uma ameaça para a sociedade e usualmente acaba em prisões ou instituições para criminosos insanos.

I. NATUREZA E FUNÇÃO DA CONSCIÊNCIA
É impossível um estudo completo da consciência, neste curto capitulo. Esta é uma exposição sucinta do que a Bíblia e a teologia evangélica afirmam sobre a consciência, relacionando-a com a vida diária do ser humano. Sucintamente falando, a posição adotada aqui é que a consciência é o eu em processo de deliberação e avaliação éticas.
A) A Consciência Não É Externa
Tanto na discussão técnica como na popular, a consciência é freqüentemente identificada com fatores ou pessoas fora do indivíduo. A consciência é, por exemplo, descrita como a voz de Deus no nosso interior, ou como a voz da igreja, do pai ou da mãe, ou da sociedade. Em outras palavras, a consciência é considerada simplesmente como a interiorização de influências externas. De alguma forma, através de relacionamentos dependentes e situações de aprendizagem, uma pessoa torna-se condicionada a responder à vontade e autoridade dos outros, mesmo quando eles não mais estão presentes. Tal fenômeno realmente ocorre. Relacionam-se à consciência e devem ser considerados pelo filósofo da ética, mas eu não acredito que qualquer um ou todos são o mesmo que consciência. O termo consciência é melhor aplicado ao que é essencialmente interno.
B) A Consciência é o Ego Moral
Sua consciência não é algo ou alguém trabalhando em ou sobre você. Sua consciência é você, os elementos de sua psique, seu eu interior, que trabalha com questões de comportamento certo e errado. Possui componentes mentais, emocionais e de vontade. É você operando esses componentes para tomar decisões morais, agir sobre eles e testar sua validade mais tarde. Sua consciência é um monitor construído em você e faz parte de seu ser.

C) A Consciência Demanda Submissão
Antes de qualquer decisão ética ou ação moral, sua consciência exige que você se ajuste a suas convicções de certo e errado. Usa pressão espiritual e moral. Ela o conduz, ou, se necessário, o orienta em direção ao certo e para longe do errado. Se você está movendo-se ou à deriva em direção ao mal, o alarme soa, avisando do desvio iminente. Se você está visando um objetivo real, isso lhe dá segurança e força. Sua consciência está constantemente checando suas respostas éticas e morais. Mesmo antes de tomar sua decisão ou começar a agir sobre ela, sua consciência o supre com sua energia forte e significativa.
D) A Consciência Coloca-se em Posição de Julgamento
Antes do ato, a consciência tenta controlar e dirigir. Depois passa para o julgamento, e faz isso de maneira independente e insistente. Acusa-o e pune-o por suas ações e decisões más, com freqüência sem misericórdia e incansavelmente. Mesmo que você seja inocente diante da lei da terra, mesmo que a sociedade aceite e aprove o que você fez, sua consciência o condenará se você acreditar que o que fez é errado. Em resposta a essas acusações da consciência, as pessoas fazem coisas notáveis, como as descritas mais à frente neste capitulo.
Por outro lado, a consciência reconhece-o e o louva por fazer o que acredita estar certo e por evitar o que acredita errado. Poucas recompensas comparam-se a aprovação da própria consciência, o sentimento de alívio e satisfação que brota ao saber que você foi fiel as suas convicções morais. Uma "boa" consciência, em parte, recomenda-o. Uma "má" consciência, em parte, o condena.

II. A CONSCIÊNCIA E SUAS LIMITAÇÕES
A consciência pode ser fator e força importantes em nossas vidas. É capaz de nos afetar profundamente e de nos prestar um serviço vital. Contudo, têm suas limitações. Pode ser ignorada ou danificada. Pode também cometer erros. Esperar muito da consciência é tão imprudente como esperar muito pouco.
A. Persistente, mas não irresistível

Quando violada, a consciência pode infligir grande dor e perturbação. Pode nos tornar desconfortáveis por longos períodos de tempo, assombrar-nos e perseguir-nos por anos, talvez incansavelmente, até que finalmente venhamos a nos ajustar as suas exigências. Por exemplo, o governo dos Estados Unidos tem um "Fundo de Consciência" para receber dinheiro de contribuintes que sonegaram impostos, mas são eventualmente dirigidos pela consciência a pagar tudo que devem. Ocasionalmente, os meios de comunicação noticiam sobre indivíduos que cometeram crimes pelos quais nunca foram acusados. Décadas mais tarde, em alguns casos, esses indivíduos se entregaram às autoridades. Embora tivessem escapado à justiça, sua consciência não lhes deu descanso.
A consciência pode também agir prevenindo o erro. Conheço uma senhora que, embora velha e sofrendo de artrite severa, escolheu viver na pobreza, em vez de aceitar um acordo do seguro que ela reconheceu como fraudulento. Seu marido foi morto na colisão com um automóvel dirigido por uma pessoa embriagada. Ela era a única passageira, e não havia outra testemunha. Como o outro motorista estava altamente alcoolizado no momento do acidente, todos - a polícia, a companhia de seguros, até mesmo o próprio motorista - assumiram que ele havia ultrapassado o sinal vermelho e causado o acidente. A companhia de seguros estava pronta a fazer um grande acordo financeiro, e a mulher precisava, pois seu marido era sua única fonte de renda. Contudo, ela sabia, sem sombra de dúvida, que seu marido, e não o motorista embriagado, tinha ultrapassado o sinal vermelho. Seu advogado, amigos e sua família imploraram que não divulgasse esse fato, mas sua consciência protestou. Embriagado ou não, o outro motorista não havia causado o acidente e não devia ser culpado por isso. Dessa forma ela não tinha direito ao pagamento e não o procuraria nem o aceitaria. Como conseqüência ela teve de viver o resto de sua vida de uma magra pensão do governo. A consciência é uma força terrível com a qual devemos nos ajustar.
Contudo, a consciência não é irresistível ou invencível. Pode ser ignorada ou desprezada. Se for suprimida com muita freqüência em uma determinada área pode eventualmente deixar de queixar-se, isto é, pode tornar-se calejada ou totalmente inoperante naquela área. Se for violada freqüentemente, em várias áreas, a consciência pode ser destruída.
A dessensibilização gradual da consciência não é uma experiência incomum, mesmo entre cristãos. Muitos relatam que, quando cometeram certo ato pecaminoso, sua consciência reagiu severamente, com perturbação e culpa aguda. Na próxima vez, notou-se que a reação foi diminuída. Depois de numerosas repetições do ato, a consciência não mais respondeu a ele. Qualquer que seja a ação, de desonestidade, de crueldade, de imoralidade sexual, ou blasfêmia, a consciência pode eventualmente ser silenciada.
B. Coerente, mas não infalível

Uma consciência saudável é confiável, na medida em que quase sempre aponta na mesma direção, como uma boa bússola. Aponta para seu padrão moral. Embora possa e deva estar sob constante reconsideração e revisão, permanece essencialmente a mesma ontem e hoje. Amanhã e nos anos vindouros provavelmente não diferirá acentuadamente do que é agora. Se estiver funcionando adequadamente, sua consciência irá, com grande coerência, dirigi-lo a esse padrão quando você tentar tomar uma decisão sobre o que fazer.
A consciência não é suave, nem fácil de ser enganada. Não sucumbe prontamente à racionalização, sua ou de outra pessoa. A consciência usualmente recusa-se ser influenciada mesmo por forte opinião popular ou por perigos sérios que você possa vir a encontrar por seguir sua orientação. Teimosa e firmemente, ela aponta na direção que seu padrão moral indica, como a agulha de uma bússola aponta seguramente o norte magnético.
Confiável não é o mesmo que infalível. Embora coerente e confiável, a consciência pode cometer erros, simplesmente, porque o padrão moral a que se refere não é sempre correto. Ela pode estar mal informada em algumas áreas, tornando-se assim uma consciência mal-formada.


III. INTRODUÇÃO À ÉTICA

1. SURGIMENTO DA ÉTICA ENQUANTO “CIÊNCIA” DA MORAL:
Com Sócrates inicia-se o estudo filosófico da moral. O filósofo percorria as ruas de Atenas e perguntava aos atenienses o que eram e significavam os valores nos quais acreditavam e que respeitavam na sua prática diária. Sócrates levava-os a se questionarem sobre os seus valores, sobre a qualidade das virtudes, sobre o que era o “bem”. Desta busca da essência das virtudes e do bem nasce a ética.

2. DEFINIÇÕES DE ÉTICA:
a) Pesquisa da natureza moral do ser humano com a finalidade de se descobrir quais são suas responsabilidades e quais os meios para cumpri-las.
b) Ética, enquanto ciência ou filosofia da moral, é uma reflexão que discute, problematiza e interpreta o significado dos valores morais.
c) Ética é a busca pela verdade e o que o homem deve fazer à luz desta verdade descoberta.
d) Ética refere-se a princípios gerais que orientam a conduta das pessoas com o objetivo de alcançar o bem comum.
e) Ética é a ciência da conduta humana, que visa uma atuação social responsável.







3. TEXTO: “ÉTICA: PRINCÍPIO DE VIDA”(José Antonio Meister - Prof. de Filosofia e Cultura Religiosa na PUCRS- In: Revista Mundo Jovem, n.º74, junho de 94

Desde que os homens começaram a se reunir em grupos, sentiram a necessidade de se organizar. Para tal, era preciso que também houvesse entre eles pontos em comum. É da busca desses pontos em comum, capazes de nortear a existência e de serem assumidos por toda uma sociedade que surge a ética.
Há princípios éticos que não são eternos. Valem para um determinado tempo e lugar, ou seja, enquanto esta sociedade tiver a possibilidade de ser norteada por eles.
Em algumas sociedades, porém, determinados princípios surgiram e duram enquanto a mesma existe. O exemplo mais característico são as chamadas sociedades primitivas.
Na sociedade em que há classes sociais, a ética reflete tais divisões, expressando, no mais das vezes, o desejo e a vontade da classe dominante. Assim, nem toda ética é justa, em especial quando se tornar expressão do domínio de uns sobre outros.
A princípio, porém, toda ética deve buscar o bem comum, no seu amplo sentido. Mas, desde que surgiram os pensamentos éticos, temos visto que, quando manipulada, a ética serve mais de instrumento de dominação do que como princípio de bem geral. Como exemplo, podemos citar o mundo greco-romano, onde a ética era para os homens livres; dela estavam excluídas as crianças, as mulheres e os escravos.
Ética e individualidade
Outro papel importante da ética é conciliar os interesses individuais com os interesses sociais. Apesar de vivermos em sociedade e sofrermos sua influência, temos vontades e idéias que não se coadunam totalmente com ela; assim, poderão ocorrer divergências entre indivíduo e sociedade.
A busca ética tem o intuito de privilegiar o bem. Individualmente, tal princípio até podia não ser aceito, mas, no exercício da cidadania, deve ser ponderado pelo executor. Ou seja, estando em convívio social, deverei agir de tal forma que os meus princípios e os sociais sejam contemplados ao máximo Essa síntese é individual.
A ética estabelece princípios gerais e, como tal, não pode oferecer, regras de condutas para cada ação que executo. É no exercício, na existência, que cada indivíduo vai conciliar tais princípios da ética com sua prática.
A ética, em si, não é proibitiva, mas orientadora, mesmo quando é expressada pela palavra "não". O intuito maior é a defesa de um determinado princípio ou benefício para todas as pessoas. Em outras palavras, quando se expressa pelo"não matar", a ética não impossibilita a pessoa de fazê-lo, porém busca a defesa da vida como sendo um dos maiores valores que temos e, portanto, passível de ser defensável.
A ética propõe princípios para a práxis, nos mais diferentes campos da ação humana. Temos uma ética geral e éticas específicas: profissional, política, ecológica, etc. Contudo, devemos reconhecer que hoje não há um único pensamento ético geral; não falamos mais da ética, mas, sim, de éticas, pois vivemos num mundo multidimensional, onde somos multifacetados quanto aos vários princípios éticos. É essa grande quantidade de princípios gera, muitas vezes, confusão.
Atualmente existem pessoas que defendem a desnecessidade da ética e mesmo sua supressão, mas esta seria impraticável.
A ética não é coercitiva, mas normativa. Propõe normas às quais, agindo, as pessoas irão aderir, buscando viver da melhor forma possível, conforme os princípios propostos. Não pode haver ética sem liberdade.
Revista Mundo Jovem, n.º74, junho de 94




QUESTÕES DO TEXTO PARA DISCUSSÃO!
1. Que exemplos podemos dar de valores ou princípios ético-morais que em determinado período histórico norteavam a conduta das pessoas e que hoje já não mais imperam?
2. Que tipo de valores poderíamos considerar como universais, imutáveis e permanentes?
3. Quem vence diante de um dilema ético? A força da moral pessoal/individual ou a força da ética coletiva/profissional a qual pertenço?
4. É possível estabelecer uma sociedade que suprima qualquer forma de princípio ético? Justifique.
5. Há critérios lógico-racionais para estabelecer qual das tantas éticas existentes é a mais justa ou correta?
6. Quais os caminhos ou possibilidades para se viver bem num mundo tão multifacetado com relação aos princípios ético-morais?
7. O texto afirma que não pode haver ética sem liberdade. Como você definiria o conceito de liberdade. Somo livres de fato?


4. A ÉTICA DA DECISÃO: A VIDA COMO DECISÃO

O ser humano é livre para escolher uma vida satisfatória e para tomar qualquer decisão importante: ele pode opinar na escolha do seu trabalho, seu cônjuge, seus amigos ou o tipo de vida que deseja.
Existe, porém, uma escolha que o ser humano não pode fazer. Ele não pode deixar de escolher. Exemplo: um barco à deriva. Não tomar uma decisão também é uma decisão. O homem não pode escapar de sua liberdade decisória. Ele está condenado a ser livre, ao menos eticamente. A VIDA NÃO APENAS EXIGE DECISÃO. A VIDA É DECISÃO.

5. A QUESTÃO DA LIBERDADE ÉTICA
(Fonte: CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 4. ed. São Paulo: Ática, 1995, p.360-361)

Aristóteles, com sua obra Ética a Nicômaco, inaugura a primeira grande teoria filosófica da liberdade, que exerce influência até o presente século, especialmente por ter sido retomada por J. P. Sartre. Nesta concepção, a liberdade se opõe ao que é condicionado externamente (necessidade) e ao que acontece sem escolha deliberada (contingência).
Aristóteles afirma que livre é aquele que tem em si mesmo o princípio para agir ou não agir, isto é, aquele que é causa interna de sua ação ou da decisão de não agir. A liberdade é concebida como o poder pleno e incondicional da vontade para determinar a si mesma ou para ser autodeterminada. É pensada, também, como ausência de constrangimentos externos e internos, isto é, como uma capacidade que não encontra obstáculos para se realizar, nem é forçada por coisa alguma para agir. Trata-se da espontaneidade plena do agente, que dá a si mesmo os motivos e os fins de sua ação, sem ser constrangido ou forçado por nada e por ninguém. Portanto, para Aristóteles a liberdade é o princípio para escolher entre alternativas possíveis. A liberdade será ética quando o exercício da vontade estiver em harmonia com a direção apontada pela razão.
Sartre levou essa concepção ao ponto limite. Para ele, a liberdade é a escolha incondicional que o próprio homem faz de seu ser e de seu mundo. Quando julgamos estar sob o poder de forças mais poderosas do que nossa vontade, esse julgamento é uma decisão livre, pois outros homens, nas mesmas circunstâncias, não se curvaram nem se resignaram.
Portanto, conformar-se ou resignar-se é uma decisão livre, tanto quanto não se resignar nem se conformar, lutando contra as circunstâncias. Quando dizemos estar cansados ou fatigados, a fadiga é uma decisão nossa. Quando dizemos estar enfraquecidos, a fraqueza é uma decisão nossa. Quando dizemos não ter o que fazer, o abandono é uma decisão nossa. Ceder tanto quanto não ceder é uma decisão nossa.
Por isso, Sartre afirma que estamos condenados à liberdade. É ela quem define a humanidade dos humanos, sem escapatória. Somos agentes livres tanto para ter quanto para perder a felicidade.
OUTRAS LIBERDADES
(Fonte: ARANHA, Maria L. e MARTINS, Maria H. Temas de Filosofia. São Paulo: Moderna, 1992, p.115-116)

Há vários enfoques para se compreender a liberdade, isto é, podemos falar de uma série de liberdades.
a) Liberdade ética: refere-se ao sujeito moral capaz de decidir com autonomia a respeito de como deve se conduzir em relação a si mesmo e aos outros.
b) Liberdade econômica: pressupõe regras de comércio.
c) Liberdade jurídica: igualdade de todos perante a lei.
d) Liberdade política: liberdade de opinião, de voto, do exercício da cidadania.
e) Liberdade religiosa: respeito ao pluralismo religioso.
Pode-se concluir que estas liberdades não são coisas dadas, mas resultam de um projeto de ação. São árduas tarefas cujos desafios nem sempre são suportados pelo homem, daí resultando os riscos de perda da liberdade. Como se pode ver, os descaminhos da liberdade surgem quando ela é sufocada à revelia do sujeito – no caso da escravidão, da prisão injusta, da exploração do trabalho, do governo autoritário – ou quando o próprio homem a ela abdica, seja por comodismo, medo ou insegurança.

6. OS CONSTITUINTES DO CAMPO ÉTICO (CHAUÍ, Marilene. Convite à Filosofia. p. 337-338.)

Para que haja conduta ética é preciso que exista o agente consciente, isto é aquele que conhece a diferença entre bem e mal, certo e errado, permitido e proibido, virtude e vício. O sujeito ético ou moral, isto é, a pessoa só pode existir se preencher as seguintes condições:
1) Ser consciente de si e dos outros, isto é, ser capaz de reflexão e de reconhecer a existência dos outros como sujeitos éticos iguais a ele;
2) Ser dotado de vontade, isto é, de capacidade para controlar e orientar desejos, impulsos, tendências, sentimentos (para que estejam em conformidade com a consciência) e de capacidade para deliberar e decidir entre várias alternativas possíveis;
3) Ser responsável, isto é, reconhecer-se como autor da ação, avaliar os efeitos e conseqüências dela sobre si e sobre os outros, assumi-la bem como às suas conseqüências, respondendo por elas;
4) Ser livre, isto é, ser capaz de oferecer-se como causa interna de seus sentimentos, atitudes e ações, por não estar submetido a poderes externos que o forcem e o constranjam a sentir, querer ou a fazer alguma coisa.

O sujeito moral não existe como um fato dado, mas é construído pela vida intersubjetiva e social, precisando ser educado para os valores morais e para as virtudes.

7. COMPORTAMENTOS PRÉ-ÉTICOS

Em todos os lugares onde viveram, os seres humanos estabeleceram diferenças entre o certo e errado, entre o bem e o mal. Desde o ser humano mais primitivo até o mais civilizado, todos julgam as ações e decisões, agrupando-as em decisões boas ou más.
Há, porém, ações ou comportamentos pré-éticos. Como o próprio termo aponta, são ações que vêm antes da ética, ou seja, não pressupõem uma reflexão, um pensar responsável. Quando agimos sem ter clareza do significado de nossa ação ou decisão isto é um comportamento pré-ético. Há dois tipos ou estágios ou comportamentos pré-éticos:
1.º Estágio imediatista: acontece quando a nossa ação é uma resposta reflexa a algum estímulo. Seguimos uma inclinação natural. Independe de nossa vontade. Por exemplo, o choro de um bebê com fome não pode ser considerado uma ação ética, mas instintiva.
2.º Estágio da tradição: as decisões visam concordar com o hábito predominante. A pergunta feita não é se a ação é boa ou má, ou se a decisão está certa ou errada. Pergunta-se: todos fazem? Então também posso fazer. Esta é uma decisão de baixo nível, pois não avaliamos os costumes, mas os aceitamos sem questioná-los.

8. ÉTICA PRUDENCIAL E SEUS TIPOS

A ética prudencial avalia todas as decisões pelas conseqüências que podem ser esperadas como resultantes, ou seja, há uma preocupação com o resultado da ação. Contrariamente a uma boa ética filosófica, a ética prudencial defende a idéia de que os fins justificariam os meios. Há vários tipos de ética prudencial.

1) Ética hedonista: o valor principal é o prazer. Uma ação é boa quando causa prazer ao indivíduo e má quando causa dor ou sofrimento. Mesmo que concordemos que o prazer é positivo para o homem a inviabilidade deste sistema ético está no fato de que o que causa prazer para um, pode trazer desconforto para o outro: ex: sadismo, fumantes,...

2) Ética naturalista: esta ética propõe que os princípios éticos sejam encontrados na Natureza. O homem, produto da Natureza, seria o ponto máximo do processo evolucionário (teoria de Darwin). Este processo evolutivo, que produziu todas as diferentes formas de vida, nos supre dos conceitos para avaliar todas ações. Como é propósito da Natureza que o apto sobreviva, tudo o que contribui para a sobrevivência do mais apto é bom. Por outro lado, o que auxilia o inapto a sobreviver é eticamente mau. Esta é uma ética utilitarista. É a lei do mais forte, do mais apto na Natureza. Exemplo: o processo de seleção natural seleciona os aptos e bons; o mais forte elimina o mais fraco; as fêmeas escolhem os machos mais fortes, alguns animais comem filhotes defeituosos,...

Podemos verificar a influência deste tipo de ética ao longo da história da humanidade. A internação de doentes mentais em manicômios, a colocação de idosos em “depósitos”, a eliminação de velhos e doentes, a prática de eutanásia e abortos eugênicos, ideologias como nazismo e “apartheid”, concursos vestibulares( os mais preparados obtém as melhores vagas), procura de empregos, na economia (cartéis, oligopólios, monopólios), na escolha de salvar feridos, comércio de embriões.

3) Ética relativista: para esta ética cada situação é única, sendo impossível encontrar um método experimental para a ética. O ser humano, individualmente, se torna a medida de todas as coisas, isto é, certo é o que eu considero certo e errado o que eu considero errado. Portanto, cada pessoa deve estabelecer seus próprios conceitos éticos e que serão verdadeiros só para ela.

4) Ética estética: esta ética diz: “viva o agora, esqueça o futuro, pois este nada vale”. Aponta para a necessidade do indivíduo tornar sua vida significativa, apesar dela ao final não ter significado. Os nossos sentidos e emoções são utilizados para dar significado à vida e transformar insignificância em beleza.

5) Ética da intuição: esta ética pressupõe que todo ser humano tem um conhecimento intuitivo de certo errado. Acredita num senso moral localizado na consciência.

6) Ética racionalista: para esta ética o conceito básico de certo e errado pode ser encontrado mediante o uso exato do raciocínio. Todos temos um senso de dever. Sabemos que existe uma diferença entre o que gostamos de fazer e o que devemos fazer.

9. BASES ANTROPOLÓGICAS DA ÉTICA

Ao estudarmos a ética, nos deparamos com questões de ordem prática e concreta, isto é, entramos no campo da ética aplicada. Normalmente, sempre haverá discussão e polêmica diante dos temas de ética aplicada (ex: aborto, eutanásia, drogadicção, bioética,...). Os motivos pelos quais nunca existirá unanimidade passam por sete características fundamentais que todo ser humano tem, características estas em torno das quais sempre giram e convergem as questões éticas. São elas:
1) Individualidade: Cada ser humano é uma pessoa, isto é, um indivíduo único, particular, peculiar, diferente de qualquer outro. Cada pessoa é um ser singular. Não há xerox de seres humanos, o que traz uma grande dificuldade para entender o ser humano bem como para se chegar a um consenso diante de questões práticas.
2) Racionalidade: Cada pessoa pensa por si própria, de maneira autônoma. Não pensa segundo padrões pré-estabelecidos, mas de acordo com suas próprias idéias.
3) Vontade: Há no íntimo de cada indivíduo um núcleo exclusivamente seu, que o determina a agir desta ou daquela maneira, segundo suas próprias motivações ou interesses. O conflito dos vários interesses de cada indivíduo na sociedade é que vai servir de “matéria-prima” para os problemas éticos.
4) Teleologia: Téleos, em grego, significa finalidade, portanto, cada ser humano, ao agir, sempre visa alcançar determinado fim, seja consciente ou inconscientemente (atos falhos,...). Todas suas ações visam ao bem de si mesmo, quer direta ou indiretamente. Todos agem achando que o que estão fazendo é o melhor para si.
5) Sentimentos: Cada ser humano tem seus próprios sentimentos, isto é, há uma sensibilidade única e especial em cada pessoa, que faz com que ela sinta as coisas de um modo próprio e único, diferente dos demais. Os sentimentos humanos são muito complexos e têm uma influência muito grande nas decisões e ações pessoais de cada indivíduo.
6) Egocentrismo: Cada indivíduo tem o seu “eu”, que lhe faz ir em busca de suas necessidades primárias e lhe dá as características distintivas pessoais e próprias. O problema é que o ser humano passa do egocentrismo para o egoísmo, este um aspecto negativo, pois o indivíduo sempre acaba pensando em si mesmo, não abrindo mão de seus interesses, mesmo indo contra os direitos e necessidades alheias. O egoísmo é a mola propulsora de todos os problemas éticos.
7) Sociabilidade: O ser humano é um ser social. Não pode e sem sabe viver sozinho. Precisa dos outros para ser, viver e conviver. Como um ser de pluralidades e de relações interpessoais, surgem naturalmente os conflitos nos relacionamentos e, por conseqüência, os problemas éticos, também por não superar seus egoísmos e vaidades em favor do bem comum.

10. DIFERENÇAS ENTRE MORAL, ÉTICA E DIREITO

Mesmo que haja uma correlação direta entre os conceitos de moral, ética e direito, didaticamente precisamos apontar para algumas diferenças.

Moral: diz respeito às normas e regras que determinam a ação de cada indivíduo, ou seja, seu modo pessoal de agir na prática conforme o contexto social no qual está inserido. São as normas pessoais que orientam sua conduta prática, isto é, age a partir de sua noção de certo e errado, bem e mal. As normas ou regras morais são adquiridas pelo indivíduo ao longo da vida através das experiências positivas ou negativas que ele vai tendo na convivência com as pessoas, a começar pela família, escola, igreja, grupo de amigos e demais instituições sociais. É a matéria-prima da ética. É individual, dinâmica e subjetiva.

Ética: baseia-se sobre as normas morais dos indivíduos. É a ciência da moral. É um saber íntimo e aprofundado dos princípios gerais que orientam a conduta de uma sociedade ou grupo. Objetiva sempre alcançar o bem comum, ocupando-se da coletividade. Tem finalidade preventiva. É orientadora, não punitiva. É avaliativa, isto é, avalia teoricamente a ação moral dos indivíduos. Estuda o modo como os indivíduos se comportam moralmente na sociedade, avaliando se ele agiu bem ou mal diante dos demais semelhantes tendo como referência os valores do contexto social.

Direito: é a via Jurídica. Baseia-se em regras sociais positivas, expressas num código, zelado pelo Estado. Usa a lei como instrumento coercitivo exterior para determinar quais ações são boas ou más. Tem finalidade saneadora e faz uso de punições. O indivíduo é obrigado a cumprir as normas jurídicas mesmo que elas forem contra sua consciência, ou seja, não exigem adesão íntima, mas apenas cumprimento exterior. É coercitivo.

MORAL
ÉTICA
DIREITO
Lida com o Certo X Errado
Lida com o Certo X Errado
Lida com o Certo X Errado
Modo pessoal de agir
Modo social de agir
Modo legal de agir
Normas e regras pessoais
Normas e regras sociais
Normas e regras legais
Individual
Grupal e/ou coletivo
Estatal e Jurídico
É prática, ação
É teórica, avaliativa
É aplicativo
É adquirida e formada ao longo da vida, por experiências,...
Implica adesão íntima, já que a mesma existe previamente na sociedade, religião, cultura, profissão,...Implica adesão íntima.
É imposta aos cidadãos; exige cumprimento, pois as leis já estão estabelecidas em códigos jurídicos (civil, penal,...). Implica obediência.
É guiada pela consciência
Guiada pela Cultura
Guiada pelas instituições políticas
Orienta e pune
Orientadora
Punitiva
Matéria-prima da ética
Constrói-se a partir do consenso de várias “morais”.
Estatiza (torna lei) um pensamento geral ou suprime a lei pela mudança de costumes
Preventiva e saneadora
Preventiva
Corretiva e saneadora

11. DIFERENÇAS ENTRE ÉTICA SOCIAL E RELIGIOSA
A ética social se distingue da religiosa em três aspectos fundamentais: princípios, meios e fins.

ÉTICA SOCIAL
ÉTICA RELIGIOSA
PRINCÍPIOS
* Busca os princípios na própria convivência humana; as pessoas determinam os princípios que melhor correspondem aos anseios e expectativas da sociedade;
* São flexíveis e adaptam-se a mudanças históricas.
*Base na razão humana (antropocêntrica).
* Busca os princípios nos dogmas da religião;
* São rígidos;
* Não comporta mudanças históricas.
* Base na vontade divina (teocêntrica).
MEIOS
Busca os meios da efetivação do bem nas forças que regem as mudanças sociais: poderes políticos, econômicos e culturais (mídia, escola,...).
Tem nos mandamentos divinos (Corão, 10 mandamentos, 8 verdades,...) os meios para a realização do bem para a sociedade.
FINS
* Atingir o bem comum, isto é, o que é melhor para a sociedade;
* Ética imanente.

* Tem como fim último atingir o Bem Supremo: Deus;
* Ética transcendente, projetando o ser humano para além deste mundo material; sentido eterno à vida.

12. TIPOS DE ÉTICA RELIGIOSA
Há duas posturas éticas comumente praticadas dentro do cristianismo. Uma mais negativa – legalista – e outra mais positiva – pedagógica.
a) Legalista: a lei de Deus é algo inflexível, devendo ser cumprida em sua plenitude. Caso a pessoa não cumpra plenamente a lei, o infrator só é redimido do erro mediante punição e penitência severa. É coercitiva, baseada no medo.
b) Pedagógica: a lei de Deus é um método educativo que visa orientar a conduta humana dentro de princípios corretos. É motivada pelo amor, pelo desejo de proteger o indívíduo dos perigos morais. Pressupõe livre aceitação dos princípios cristãos pela pessoa, não por coerção.

13. ÉTICA CRISTÃ

A. Fundamento da ética cristã

O fundamento da ética cristã encontra-se na Palavra de Deus, a Bíblia. Nela encontramos a vontade de Deus expressa aos seres humanos.
Dentro da Bíblia, porém, existem dois grandes tipos de conteúdos: lei e evangelho. O fundamento da ética cristã não é a lei, mas o evangelho, cuja base é o amor de Deus pelo ser humano. A questão é definir e conceituar este amor, visto que na língua grega há pelo menos três tipos de amor – Eros, filos e ágape. Apenas um deles serve como fundamento da ética cristã, que é o ágape. Descreveremos aqui os três tipos de amor, procurando mostrar a adequação ou não dos mesmos para a base da convivência ética.

1) Eros: o amor Eros está ligado à intimidade física; é o amor da atração sexual, erótica entre duas pessoas. O amor eros está sujeito a instabilidades emotivas, sendo cercado de fortes paixões, às vezes incontroláveis. Freqüentemente apresenta-se de forma muito egoística, onde o indivíduo busca apenas o seu próprio prazer, fazendo do outro um mero objeto. O amor erótico tem se tornado, na prática, uma grande fonte de exploração financeira. Viver ou relacionar-se unicamente norteado pelo amor Eros pode gerar muitos atos que são imorais ou anti-éticos. Exemplos: matar por “amor”, conflitos,... Neste sentido, o amor Eros não pode servir como fundamento da ética cristã, nem tampouco de uma boa ética social.
Observação: não deve ficar a idéia de que o amor Eros seja um amor negativo, afinal foi também criado por Deus (faz parte da natureza humana). Noutra concepção (psicanalítica) o amor Eros é essencial ao ser humano, pois designa o conjunto das pulsões de vida em oposição às pulsões de morte. É o amor da energia, que precisamos colocar em tudo que fazemos na vida.

2) Filos: o amor filos está ligado à intimidade afetiva; é o amor filial, filantrópico, que existe entre pais e filhos, irmãos e irmãs, entre parentes e amigos mais chegados. É um amor no qual eu respeito, admiro e nutro afeto, carinho pelo outro. Não está ligado à intimidade física ou sexual, mas à pessoa em si. Este tipo de amor é bastante positivo, porém também encontra algumas dificuldades para fundamentar a ética cristã ou social. O amor filos está sujeito ao egoísmo e vaidade humanas, afinal amamos e privilegiamos mais a uns do que outros, bem como não nutrimos amor por uma série de pessoas. Em função disso, o amor filos pode gerar injustiças, pois podemos prejudicar pessoas por amor a outras. Vários exemplos comprovam este fato: uma mãe que ama mais um filho do que outro, nepotismo, mentiras,...

3) Ágape: é o amor divino, uma forma especial de amor, que transcende os dois anteriores. Não se encontra facilmente entre os seres humanos, a não ser que estes estejam ligados a Deus pelo vínculo da fé. É um amor que emana diretamente de Deus, a partir de uma intimidade espiritual. É amar sem qualquer tipo de interesse ou vantagem própria, mas visando unicamente o bem da pessoa amada. Neste amor o perdão está acima de tudo. Somos capazes de amar até aqueles que nos prejudicam. É o amor sintetizado na figura e vida de JESUS CRISTO, que ama a todos indistintamente, que oferece o perdão a todos e que até ora em favor dos que o perseguem.
O amor ágape não é fácil de ser compreendido, muito menos ainda de ser praticado. É um amor perfeito, idealístico que só Deus pode praticar plenamente. Nós, humanos, podemos dar algumas mostras deste amor, alguns mais, outros menos, dependendo da profundidade de nossa relação com Deus, que nos capacita a amar desta maneira. Este é o único amor válido para fundamentar a ética cristã.

B. Abrangência e relevância da ética cristã

Qual a amplitude da ética cristã? A quem ela deve atingir e transformar? É uma idéia absolutamente equivocada pensar que a prática da ética cristã deva ficar circunscrita às paredes de uma igreja. Ela precisa ir além da satisfação das necessidades espirituais do indivíduo ou do simples relacionamento com os irmãos na fé.
A ética cristã tem sim uma função transcendental, de remeter o ser humano à dimensão de uma vida eterna, com Deus. Porém, não existe ética cristã só no coração, só na teoria. Ela é essencialmente prática, concreta, vivida. Amor cristão só existe quando sai de mim e encontra um outro ser. É um amor de relacionamento interpessoal.
Portanto, a ética cristã também acaba sendo uma ética social, que atinge e transforma todos os seres humanos, que compartilham da fé e vida dos cristãos. Como Cristo diz aos seus discípulos, “vocês são o sal da terra e a luz do mundo”. A ética cristã também traz como objetivo melhorar o mundo em que vivemos, procurando construir uma sociedade em que prevaleça a justiça, a paz, a caridade, o perdão, entre outras virtudes cristãs.
O cristão, enfim, precisa fazer a diferença, ali onde se fizer presente, dando mostras do amor que lhe é alcançado por Deus.

C. A ética cristã segundo textos bíblicos:
O que significa viver o amor ágape, segundo a Bíblia? Dois textos bíblicos dão uma boa dica, referindo aos frutos do Espírito Santo:
1) TEXTO BÍBLICO DE GÁLATAS 5.16ss (Bíblia na Linguagem de Hoje)
O Espírito de Deus e a natureza humana
16Quero dizer a vocês o seguinte: deixem que o Espírito de Deus dirija a vida de vocês e não obedeçam aos desejos da natureza humana. 17Porque o que a nossa natureza humana quer é contra o que o Espírito quer, e o que o Espírito quer é contra o que a natureza humana quer. Os dois são inimigos, e por isso vocês não podem fazer o que vocês querem. 18Porém, se é o Espírito de Deus que guia vocês, então vocês não estão debaixo da lei. 19As coisas que a natureza humana produz são bem conhecidas. Elas são: a imoralidade sexual, a impureza, as ações indecentes, 20a adoração de ídolos, as feitiçarias, as inimizades, as brigas, as ciumeiras, os acessos de raiva, a ambição egoísta, a desunião, as divisões, 21as invejas, as bebedeiras, as farras e outras coisas parecidas com essas. Repito o que já disse: os que fazem essas coisas não receberão o Reino de Deus.
22Mas o Espírito de Deus produz o amor, a alegria, a paz, a paciência, a delicadeza, a bondade, a fidelidade, 23a humildade e o domínio próprio. E contra essas coisas não existe lei. 24As pessoas que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a natureza humana delas, junto com todas as paixões e desejos dessa Nat\xureza. 25Que o Espírito de Deus, que nos deu a vida, controle também a nossa vida! 26Nós não devemos ser orgulhosos, nem provocar ninguém, nem ter inveja uns dos outros.

2) TEXTO BÍBLICO DE COLOSSENSES 3.12-17 (Bíblia na Linguagem de Hoje)
12Vocês são o povo de Deus. Ele os amou e os escolheu para serem dele. Portanto, vistam-se de misericórdia, de bondade, de humildade, de delicadeza e de paciência. 13Não fiquem irritados uns com os outros e perdoem uns aos outros, caso alguém tenha alguma queixa contra outra pessoa. Assim como o Senhor perdoou vocês, perdoem uns aos outros. 14E, acima de tudo, tenham amor, pois o amor une perfeitamente todas as coisas. 15E que a paz que Cristo dá dirija vocês nas suas decisões, pois foi para essa paz que Deus os chamou a fim de formarem um só corpo. E sejam agradecidos. 16Que a mensagem de Cristo, com toda a sua riqueza, viva no coração de vocês! Ensinem e instruam uns aos outros com toda a sabedoria. Cantem salmos, hinos e canções espirituais; louvem a Deus, com gratidão no coração. 17E tudo o que vocês fizerem ou disserem, façam em nome do Senhor Jesus e por meio dele agradeçam a Deus, o Pai.

D. A interdisciplinaridade da ética cristã

A ética cristã tem vinculação com outras ciências e ramos do saber, buscando nos mesmos subsídios para o entendimento do ser humano e para aplicação dos princípios éticos. Entre as ciências podemos citar:
a) Teologia: dá à ética seus princípios, meios e fins.
b) Filosofia: contribui para a fundamentação da ética cristã pois promove constantes reflexões e questionamentos nos campos da epistemologia, axiologia e ontologia. Só não aceita o reducionismo ao racionalismo ético.
c) Psicologia: auxilia a ética cristã a avaliar as plenas condições do agir moral dos seres humanos, visto estudar os padrões que regem o comportamento íntimo do mesmo. Pode determinar a motivação das ações humanas. Ex: ajuda a avaliar psicoses, sociopatias, surtos,...
d) Sociologia: auxilia a entender o comportamento do ser humano dentro de suas relações interpessoais na sociedade. Aponta para as peculiaridades culturais, ideologias e tradições que influenciam nas decisões e ações dos indivíduos.

14. ÉTICA PROFISSIONAL
Várias áreas profissionais já têm constituído um código de ética profissional. Algumas informações gerais sobre os mesmos merecem ser aqui destacadas:
ü É um instrumento regulador da prática profissional;
ü Conjunto racional de valores que procuram estabelecer linhas ideais éticas;
ü É uma espécie de contrato de classe, englobando atitudes, deveres e estados de consciência;
ü No código de ética o exercício de virtudes “obrigatórias” tornam-se exigíveis dos profissionais, propondo linhas de virtudes a serem seguidas;
ü Assume quase um caráter de lei, mas com proveito geral dos profissionais;
ü São normas comportamentais que devem reger a prática profissional no que concerne a sua conduta, em relação aos seus semelhantes;
ü A base de um código de ética profissional deve fundamentar-se nas virtudes exigíveis a serem respeitadas no exercício da profissão e abrange as relações com os usuários dos serviços, os colegas, a classe e a nação.
ü As funções de um código de ética, além das acima citadas são: garantir a qualidade eficaz no trabalho; ajudar a manter o bom nome da classe; proteger os bons profissionais dos maus profissionais; dar segurança aos usuários dos serviços;...
ü Perigos dos contratos de classe: o puritanismo ético, que é marcado pela intransigência e intolerância; práticas corporativistas que são nocivas;
ü Importante: o código de ética profissional, além de ter um caráter educacional e preventivo assume também um caráter fiscalizador, podendo julgar os membros da classe que transgrediram as normas do código. Poderá ir desde advertências verbais, escritas, suspensão, multa ou cassação da habilitação profissional.


BIBLIOGRAFIA FUNDAMENTAL:
KUCHENBECKER, Walter. O Homem e o Sagrado. 5.ª ed. Canoas: Ed. da ULBRA, 1999.

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA (além das já referidas no texto)

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[1] Alexandros Spyros BOTSARIS. Sem anestesia: o desabafo de um médico..., p.57
[2] Jayme LANDMANN. A outra face da medicina, p.14-15.
[3] Esculápio é a tradução latina do nome Asklépios, originário da língua grega.
[4] J. Simões JORGE. Cultura Religiosa: o homem e o fenômeno religioso, p. 110.
[5] Id.ibid., p. 111.
[6] MARX, apud J. Simões JORGE, Op.cit., p.115.
[7] J. Simões JORGE. Op.cit., p. 119.
[8] Id.ibid., p. 129.
[9] Mônica TARANTINO. Perdoar é humano. Revista Isto É, 08 de janeiro de 2003, edição n. 1736,
[10] TOURNIER, Paul. Op.cit., p.200
[11] Ibidem, p.215
[12] ZIMPEL, Rogério. Fenômenos espirituais: a visão da psiquiatria. In: Espiritualismo/espiritismo: desafios para a igreja na América Latina. Org. Ingo Wulfhorst – São Leopoldo, RS: Sinodal; Genebra, CH: Federação Luterana Mundial, 2004, p.79ss
[13] Presidente da Federação Espírita do Rio Grande do Sul entre 1998-2001.
[14] ANDRADE, Nilton Stamm de. Espíritos e obsessão conforme a doutrina espírita codificada por Allan Kardec., p. 55-58. In: Espiritualismo/espiritismo: desafios para a igreja na América Latina. Org. Ingo Wulfhorst – São Leopoldo, RS: Sinodal; Genebra, CH: Federação Luterana Mundial, 2004, p.55
[15] Ibidem, p.56-7

3 comentários:

Anônimo disse...

oi sou professora de historia passei o filme nome da rosa pra meus alunos,eu li sua pagina na internet e me interesi pelas questoes sobre esse filme poderiam me mandar as respontas??
obrigada

Alan disse...

Olá professora . . .

O professor optou por Lutero.

Anônimo disse...

Olá sou professor de história passei o filme nome da rosa pra meus alunos,eu li sua pagina na internet e me interessei pelas questões sobre esse filme poderiam me mandar as respontas?
obrigado